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Encontro Democrático: a quantas anda o espírito empreendedor?

Tendo como tema “O Espírito Empreendedor”, o painel reuniu os especialistas Marcel Solimeo, economista da ACSP; Mara Sampaio, psicóloga social; e Rubens Figueiredo, cientista político e coordenador de conteúdo do Espaço Democrático.

O painel foi coordenado pelo jornalista Sérgio Rondino (à esquerda)

O painel foi coordenado pelo jornalista Sérgio Rondino (à esquerda)

Diferentemente do que se observava há algumas décadas, existem hoje no Brasil cerca de 40 milhões de empresários formais (micro, pequenos ou empreendedores individuais), que mostram uma ainda pequena – mas crescente – consciência de sua importância para o desenvolvimento e de sua força política como classe social. E esse contingente pode ser muito maior se forem considerados homens e mulheres de todas as idades dotados do chamado “espírito empreendedor”. Ou seja, com disposição para inovar, avançar, buscar novos horizontes e/ou fazer a diferença nos ambientes em que atuam, seja à frente de seus próprios negócios ou agindo como profissionais.

Essa, em síntese, foi a conclusão dos participantes do Encontro Democrático realizado na quarta-feira (11) pelo Espaço Democrático, a fundação do PSD para estudos e formação política. Tendo como tema “O Espírito Empreendedor”, o painel reuniu os especialistas Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo; Mara Sampaio, psicóloga social e autora do livro “Atitude Empreendedora: Descubra com Alice o Seu País das Maravilhas”; e Rubens Figueiredo, cientista político e coordenador de conteúdo do Espaço Democrático.

Conduzido pelo jornalista Sérgio Rondino, o encontro teve início com a pergunta: O que mudou para que o empreendedorismo no Brasil chegasse à dimensão que tem hoje?

Rubens Figueiredo

Rubens Figueiredo

Para Rubens Figueiredo, a valorização do empreendedorismo ganhou consistência nas duas últimas décadas, a partir de mudanças como a estabilização da moeda nos anos 1990, a ampliação do mercado de consumo ocorrida na década seguinte e a própria modernização da economia brasileira.

De acordo com ele, o Brasil sempre teve cultura de dependência do Estado, na qual as famílias valorizam o trabalho no funcionalismo público e os empresários têm imagem ruim, de exploradores e desonestos. “Isso começou a mudar com a elevação do nível educacional no País, e as pesquisas mostram há anos que vem ganhando força a visão do empreendimento privado como algo positivo”, explicou.

A tendência foi reforçada, diz Figueiredo, em meados da década de 1990, com a transformação da moeda volátil que tínhamos então em uma moeda estável, que permitiu ao Brasil viver um capitalismo semelhante ao existente nas economias mais desenvolvidas e modernas. “O aumento do consumo levou uma parcela muito grande da população a conviver com o chamado mercado e a conhecer as características desse universo, provocando uma mudança impressionante no comportamento e nos sonhos desse grupo”, afirmou.

O cientista político lembrou que essa revolução vivida pela sociedade brasileira provocou reflexos na área cultural. “O sonho de empreender passou a fazer parte da vida das classes de menor renda, com o surgimento de muitos pequenos negócios nas favelas e outras áreas de concentração da população mais pobre”, explicou.

Respondendo à pergunta “Como quantificar esse sentimento?”, o economista Marcel Solimeo disse que o universo de 40 milhões de empreendedores formalizados hoje existente no Brasil (sendo

Marcel Solimeo

Marcel Solimeo

que 11 milhões são MEI, ou microempreendedores individuais) é resultante de um processo lento de flexibilização da legislação. “Como fruto de nossa tradição cultural de dependência do Estado, surgiu em nosso país uma burocracia muito forte, que só recentemente passou a ser flexibilizada, permitindo, juntamente com outros fatores, que os empreendedores informais, que já existiam, passem a se formalizar, deixando mais clara sua presença na sociedade”, explicou.

Outro aspecto dessa evolução é que, na situação anterior, em geral os empreendimentos eram iniciados por necessidade de ocupação ou de aumento de renda. “Agora, quase 80% dos novos negócios surgem pela visão de uma oportunidade”, disse Solimeo, lembrando que isso decorreu da estabilidade da moeda, da modernização econômica e também da redução da burocracia, com a criação do Simples, por exemplo.

Ele acredita que – além da estabilidade da moeda, da consolidação de mecanismos de crédito, melhor educação e simplificação burocrática –, a tendência de crescimento desse universo é reforçada também pelo avanço da tecnologia e pelo aumento da presença feminina no mercado de trabalho. “Estamos passando por uma transformação que vai ser desacelerada pelos problemas da economia, mas não vai parar”, prevê.

Por sua vez, ao responder à pergunta “O que é atitude empreendedora?”, a psicóloga social Mara Sampaio explicou que essa é a característica de quem investe por oportunidade, por acreditar que pode fazer a diferença, e não apenas para sobreviver. “É a predisposição para agir, vontade de inovar no seu trabalho ou em um novo negócio”, completa, lembrando que o sonho de ter sucesso e contribuir para melhorar o ambiente em que se vive é outro componente importante dessa atitude.

Para ela, hoje a iniciativa empreendedora é bem vista pela sociedade, ao contrário do que ocorria em décadas passadas, quando mesmo empresários bem sucedidos mostravam certa hesitação em se definir assim. “Agora, a cabelereira e o pipoqueiro se orgulham de serem empreendedores e de compartilhar seu sonho de sucesso com eventuais empregados, de ajudar outras famílias a sobreviverem”, lembra Mara.

Na opinião do economista Marcel Solimeo, contudo, o sonho de empreender ainda se choca, no Brasil, com as restrições impostas pela lei. “A legislação trabalhista e de outras áreas ainda é antiempresarial e antiprogresso. Muitas vezes o empreendedor procura não crescer para não aumentar seus problemas; e quem não cresce, perece”.

Mara Sampaio

Mara Sampaio

Mara Sampaio vê a questão de outra maneira. “O empreendedor é aquele que olha com otimismo para os obstáculos. Ele acredita que é capaz de superá-los. Por isso, confio na força desse espírito. Quem tem essa atitude é capaz de contribuir para movimentar estruturas e melhorar o ambiente de empreendimentos”, afirma.

Da mesma forma, Rubens Figueiredo é otimista. “Se o Estado deixar de lado seu fiscalismo e pensar no futuro, mudar sua visão de que o empresário é o inimigo, haverá um novo ciclo de expansão do empreendedorismo”, diz ele.

Com isso, na opinião unânime dos debatedores, a tendência é o fortalecimento da percepção dos empreendedores como classe social. “Já há um início de entendimento de que ele é uma força política”, diz Solimeo, ao mesmo tempo que Rubens Figueiredo lembra que, atualmente, “não ter patrão já é motivo de elevação de status, de aumento da autoestima”.

Para Mara Sampaio, o empreendedorismo ainda não é uma força social porque estamos no início dessa transformação. “Mas a tendência é uma valorização cada vez maior dessa atitude, nos negócios próprios ou mesmo no interior das empresas. Isso se torna mais importante à medida em que piora o cenário econômico, pois quem tem essa atitude tem mais chance de sucesso”, conclui.

Novo ciclo

O Encontro Democrático que discutiu o espírito empreendedor foi o primeiro de um novo ciclo de painéis promovido pelo Espaço Democrático. Desde o final de 2011, quando foi formalizada, a fundação do PSD para estudos e formação política vem realizando seminários e debates sobre as grandes questões nacionais e internacionais, buscando respostas para os problemas que afligem a população.

Entre o final de 2011 e o segundo semestre de 2012, foram realizados seminários em 7 capitais de Estado, reunindo lideranças locais, filiados e simpatizantes para apresentação das propostas do partido e discussão de medidas de estímulo ao desenvolvimento regional.

Consulta feita via SMS aos participantes do Seminário “PSD – Um Partido Ligado no Brasil”, realizado em Teresina, no dia 18 de maio de 2012, mostrou que o evento teve a aprovação de quase todos os participantes. Entre os que responderam à enquete, 32,6% consideraram o encontro motivador. Outros 25% o classificaram como informativo. Para 42,3%, o seminário atendeu às expectativas. Nenhum deles classificou o evento como insatisfatório.

O resultado registrado em Teresina é semelhante ao obtido nos seminários realizados em Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Vitória, Goiânia e Rio de Janeiro. Nesta última, o evento ocorreu em maio e quase 80% dos participantes o consideraram motivador (49,2%) ou informativo (29,2%). A enquete via celular foi realizada com os 382 participantes cadastrados durante o evento.

Ainda em 2012, teve início o ciclo de debates “Desatando os nós que atrasam o Brasil”, no qual foram realizados 19 encontros entre especialistas, empresários, acadêmicos, políticos e dirigentes de entidades de classe com o objetivo de reunir sugestões para solucionar os grandes problemas que travam o desenvolvimento econômico e social do País.

Desde então foram debatidos temas como privatização, infraestrutura, saúde, educação, segurança pública, empreendedorismo, economia criativa e qualidade de vida, entre outros. Todos esses eventos foram transmitidos em tempo real pela internet, permitindo que interessados de todo o País pudessem acompanhar as discussões e enviar perguntas e sugestões.

Em março de 2014 foi realizado também seminário internacional, em parceria com a FAES, fundação do Partido Popular espanhol, para debater a situação política dos países ibero-americanos. O evento reuniu em São Paulo ex-presidentes de países latino-americanos, parlamentares da Europa e da América do Sul e ainda acadêmicos das duas regiões.


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