Texto: Estação do Autor com Agência Fapesp / Galileu
Edição: Scriptum
Na busca por novas drogas para tratar tumores cancerígenos, pesquisadores brasileiros contribuíram com uma descoberta importante. Uma combinação de duas drogas foi capaz de suprimir tumores de uma forma não convencional. Em vez de inibir a divisão das células tumorais, como fazem os medicamentos mais conhecidos, a estratégia consiste em superativar a sinalização dessas células a ponto de ficarem estressadas. Outra droga, então, ataca justamente essas que estão sob estresse.
Reportagem de André Julião para Agência Fapesp, publicada na revista Galileu (assinantes), detalha o trabalho dos cientistas brasileiros que inovou ao superestimular e estressar células tumorais. A experiência deve ser testada em pacientes nos Países Baixos, ainda em 2024.
Publicado na revista Cancer Discovery, o estudo tem como primeiro autor Matheus Henrique Dias, atualmente pós-doutorando sênior no Instituto do Câncer dos Países Baixos (NKI).
Dias começou a desenvolver o medicamento durante seu pós-doutorado, no Instituto Butantan, com estágio na Universidade de Liverpool, no Reino Unido. O projeto ocorreu no âmbito do Centro de Toxinas, Resposta-Imune e Sinalização Celular (CeTICs), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Durante o processo, os pesquisadores concluíram que as células de câncer passam a proliferar menos não porque são inibidas diretamente por uma droga, como ocorre com os tratamentos mais usados na quimioterapia.
Um dos coautores do estudo, Marcelo Santos da Silva, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), apoiado pela FAPESP, realizava pós-doutorado no Butantan na mesma época que Dias e desenvolveu um ensaio para quantificar o estresse das células tumorais. Marcelo explica que quando superativadas, as células tumorais replicam o DNA ainda mais rápido do que o normal. Como não estão preparadas para lidar com essa velocidade de replicação, acabam gerando danos no DNA, o chamado estresse replicativo.
Na USP, Silva pretende aplicar o mesmo princípio do potencial tratamento de câncer para eliminar parasitas causadores de doenças negligenciadas. Isso porque os protozoários causadores da doença de Chagas, e os da leishmaniose, por exemplo, têm um comportamento similar às células de câncer, se replicando muito rápido dentro da célula hospedeira.