Texto Estação do Autor com Estadão
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Com menor capacidade de controle de impulso e mais suscetíveis a atividades que prometem recompensas rápidas e que parecem emocionantes, crianças e adolescentes se tornam cada vez mais dependentes de jogos on-line. A proximidade com o futebol, os games e o celular fizeram com que as bets entrassem no universo desses jovens com uma força que preocupa famílias, escolas e profissionais da área da educação.
Reportagem especial de Renata Cafardo para o Estadão trata do assunto e traz sugestões de especialistas para lidar com o problema cada vez mais presente no cotidiano de jovens brasileiros e seu entorno social.
A publicidade ostensiva on-line e off-line, com influenciadores e até medalhistas olímpicos, durante o jogo de futebol, na camisa dos times e nas redes sociais, normaliza as bets e faz com que elas pareçam saudáveis e divertidas. Por outro lado, a falta de regulamentação no País também contribui para que o público infanto-juvenil fique desprotegido e tenha acesso a uma atividade proibida para menores. O Instituto Jogo Legal, entidade que representa o setor, diz que o problema está nos sites irregulares. A aposta, antes restrita a ambientes como cassinos e bares, agora está ao alcance da mão, promovida pela paixão pelo futebol e pela TV.
“É poderoso e avassalador” diz Fermín Damirdjian, orientador educacional da Escola da Vila, em São Paulo. Nas redes sociais, jovens se deparam com histórias de sucesso rápido. Na Camino School, a discussão sobre apostas começou após relatos de famílias dos estudantes. A diretora Letícia Lyle afirma que as escolas enfrentam muitas demandas e que a sociedade ainda está despreparada para lidar com a juventude conectada. Na rede estadual paulista, o tema foi incorporado ao material didático de educação financeira no ensino médio.
O fácil acesso aos jogos via celular aumenta a preocupação, e há uma relação entre o uso excessivo de dispositivos e problemas de saúde mental. Dicas para lidar com o tema incluem discutir abertamente os riscos das apostas, evitar tratá-las como algo divertido, e promover a educação financeira em família.
Uma resolução do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária passou a exigir que a publicidade de apostas deixe claro que a atividade é restrita a menores, sem utilizar elementos infantis. O Ministério da Educação afirma que a educação financeira faz parte da Base Nacional Comum Curricular e que novas tecnologias devem ser integradas de forma crítica nas escolas. Já o Ministério da Saúde está ampliando o atendimento para problemas de saúde mental, incluindo vício em jogos, com a abertura de mais Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) voltados para crianças e adolescentes.