
Para psicólogo, abolição estava sendo apresentada como uma benesse concedida pela monarquia à população negra.
Texto: Estação do Autor com Agência Brasil
Edição: Scriptum
Apesar do 13 de maio ser uma data importante para lembrar a abolição da escravatura, há controvérsias. Há quem defenda que o “Dia da Consciência Negra” pode ser mais relevante. O dia 20 de novembro marca a morte de Zumbi dos Palmares, um dos líderes negros que lutou contra a escravidão, o racismo e pelos direitos dessa população.
A reportagem de Daniel Mello para a Agência Brasil mostra, a partir de estudos e pesquisas, que o fim da escravidão no Brasil foi um processo construído por pessoas negras, iniciado a partir do primeiro escravizado que lutou contra essa condição. O psicólogo Márcio Farias, coordenador da coleção Clóvis Moura na Editora Dandara, destaca que, ao longo das últimas décadas, têm aumentado as percepções sobre a ação política dos escravizados, incluindo o próprio 13 de maio.
Por ser uma data oficial usada como uma espécie de “ação redentora de uma elite, dos setores dominantes, frente ao que foi o horror da escravidão”, o dia 13 de maio é alvo de discussão, segundo Farias. Por isso, os movimentos negros precisaram contestar a celebração, porque a abolição estava sendo apresentada como uma benesse concedida pela monarquia à população negra.
Segundo o historiador Rafael Domingos Oliveira, apesar dos esforços dos abolicionistas, o processo de abolição acabou promovendo a desigualdade racial no Brasil pelas décadas seguintes até os dias atuais. “O projeto de redistribuição de terras, defendido por André Rebouças e Joaquim Nabuco, que poderia perfeitamente ser entendido hoje como reforma agrária, estaria associado à emancipação da população escravizada. O projeto, como sabemos, nunca foi para a frente e, até hoje, o Brasil é um dos únicos países de formação agroexportadora que nunca realizou a reforma agrária”, exemplifica Oliveira sobre as propostas que chegaram a ser discutidas à época.