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{ ARTIGO }

Esquerda terá a menor bancada em 20 anos

A narrativa eleitoral de que Lula governará com um programa de esquerda não tem sustentação empírica, escreve Rogério Schmitt

 

Rogério Schmitt, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

Edição: Scriptum

 

O nosso próximo ciclo político-eleitoral terá início efetivo com a iminente posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 1º de janeiro. Porém, o novo período de governo só começará para valer com a posse da nova legislatura do Congresso Nacional, em 1º de fevereiro.

Assim, os primeiros 30 dias do terceiro governo Lula acontecerão ainda durante o recesso do poder legislativo. Já com a caneta na mão, o presidente eleito, ao longo deste período, poderá editar, por exemplo, as primeiras medidas provisórias (com efeito imediato) de sua gestão.

E também é fato que a filiação partidária dos ministros de Lula já será uma boa estimativa do apoio legislativo que o seu governo terá. Mas será somente a partir de fevereiro, com as primeiras votações na Câmara e no Senado, que saberemos, na prática, o tamanho da nova coalizão governista.

A derrotada campanha presidencial de Jair Bolsonaro (PL) difundiu uma narrativa de que uma eventual vitória de Lula teria como consequência necessária a implantação do ideário econômico, social e cultural do PT e de seus aliados à esquerda. Como veremos a seguir, nada mais distante da verdade. É só fazermos algumas contas bem simples.

Vou utilizar como referência a métrica recentemente desenvolvida pela Folha de São Paulo para posicionar os partidos políticos brasileiros no eixo ideológico esquerda-centro-direita.

Com base nessa metodologia, desenvolvi o gráfico abaixo. Ele apresenta o número de deputados federais eleitos pelos partidos de esquerda, de centro e de direita nas oito últimas eleições, desde a década de 1990 até hoje.

 

 

Em 2022, os partidos de esquerda elegeram somente 125 das 513 cadeiras da Câmara. Esse número é insuficiente sequer para atingir a maioria simples do plenário. Em outras palavras, Lula simplesmente não terá votos no Congresso para governar com uma agenda de esquerda.

Não é por outra razão que o seu terceiro governo será integrado também por ministros indicados pelos partidos de centro (que elegeram 128 deputados) e até mesmo por ao menos uma sigla do campo dos partidos de direita (que elegeu nada menos que 260 parlamentares).

Por outro lado, em perspectiva histórica, também chama muito a atenção o fato de que o PT e os demais partidos de esquerda (PSB, PDT, PCdoB, PSOL etc) terão, a partir do ano que vem, a menor bancada parlamentar das últimas duas décadas, superando somente as bancadas eleitas nas eleições dos anos 1990 (vencidas pelo tucano FHC).

Comparativamente, nas outras duas eleições vencidas por Lula, a esquerda fizera, respectivamente, 151 cadeiras em 2002 e 163 cadeiras em 2006. E nas duas eleições vencidas pela petista Dilma Rousseff, a esquerda também se saiu muito melhor do que agora (179 e 145 deputados em 2006 e em 2010, respectivamente).

Os números, portanto, falam por si mesmos. A esquerda saiu das urnas em outubro não apenas como o menor dos três blocos ideológicos da Câmara, como também com a menor força parlamentar dos últimos vinte anos. Por essa e por outras razões, portanto, a narrativa eleitoral de que Lula governará com um programa de esquerda simplesmente não tem sustentação empírica.

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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