Redação Scriptum com O Estado de S.Paulo
O governo da Índia está em guerra contra um traço cultural da população do país: o hábito das pessoas, de fazer necessidades fisiológicas a céu aberto. Reportagem de Felipe Frazão publicada em O Estado de S.Paulo (disponível apenas para assinantes) mostra com o governo do primeiro-ministro Narendra Modi tenta erradicar o hábito, que tem sérios impactos não só na imagem externa da Índia, mas também na saúde da população.
Em 2014, o governo lançou um programa para acabar com a prática, mais grave nas aldeias do país. Conhecida pela sigla SBM, a Missão Índia Limpa – ou Swachh Bharat Mission – notabilizou-se pela meta ambiciosa e ficou conhecida na propaganda oficial como maior programa sanitário do mundo.
Segundo o governo da Índia, já foram construídos e instalados mais de 100 milhões de sanitários, sejam instalações privadas, nas casas das pessoas. Ao todo, 600 milhões de pessoas teriam sido beneficiadas, assim como 600 mil vilarejos.
Cinco anos depois, em 2019, Modi fez um anúncio controverso. Disse que a Índia havia eliminado o problema e se tornara um país Open Defecation Free (ODF) – livre do fecalismo a céu aberto. Mas a realidade nas ruas das principais cidades do país mostra que nem tudo é como se anuncia. O Estadão percorreu as cidades de Agra, Nova Délhi, Faridabad e Hyderabad, passando por zonas periféricas, centrais e trechos de interior. A reportagem encontrou fezes humanas em calçadas, em bairros pobres como Seemapuri, na divisa entre Delhi e Uttar Pradesh, e testemunhou pessoas urinando na beira da estrada. Em todas as cidades foi possível encontrar banheiros do programa SBM, que podem ser localizados por usuários na internet. Embora alguns estivessem em condições de uso, principalmente nas áreas mais nobres, havia também muitos fechados, imundos, com lixo e dejetos humanos acumulados, esgoto escorrendo para a calçada.