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{ DIÁLOGOS NO ESPAÇO DEMOCRÁTICO }

Como surgiram e cresceram as milícias do Rio de Janeiro

Programa da fundação do PSD entrevista o jornalista Rafael Soares, autor do livro ‘Milicianos: Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele’

 

Redação Scriptum

O Estado tem grande responsabilidade no fato de policiais civis e militares abandonarem a farda e o combate ao crime para se juntarem a ele, como acontece com as milícias do Rio de Janeiro. O entendimento é do jornalista Rafael Soares, autor do livro Milicianos: Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele (Editora Objetiva, 320 páginas), entrevistado pelo programa Diálogos no Espaço Democrático, produzido pela fundação de estudos e formação política do PSD.

Repórter especial de O Globo, onde atua há quase 11 anos sempre cobrindo a área de segurança pública, em especial a violência policial, Rafael, conta que várias vezes ouviu relatos de policiais sobre a bravura de um ícone das milícias, o sargento da reserva da Polícia Militar Ronnie Lessa, preso sob a acusação de matar a ex-vereadora carioca Marielle Franco e o seu motorista Anderson Gomes. “O Lessa era considerado uma lenda na corporação, um cara que teve carreira meteórica, que foi de soldado a sargento em dois anos, o que aconteceu em razão dos muitos elogios, congratulações, gratificações por bravura, ou seja, a ficha dele era a de um robocop”, conta Rafael. “Mas quando comecei a apurar detalhadamente as ocorrências que alavancaram essa carreira meteórica, percebi que em todas elas havia suspeitas ou indícios de violações aos direitos humanos: tortura, execução, desvio de drogas ou armas; casos que não foram investigados como deveriam pela PM”.

Para o jornalista, na época em que Lessa foi envolvido nesses muitos casos o Estado tinha como saber, por exemplo, como atuava a patrulha que ficou como Patamo 500, que reunia, na mesma viatura, Lessa e Cláudio Luiz Silva de Oliveira, o ex-tenente-coronel da PM condenado por matar a juíza Patrícia Acioli. “A política de segurança pública do Rio, e não estou me referindo a apenas um governo, deu faca e queijo na mão para o Lessa, que virou um criminoso porque o Estado formou ele para isso, fechando os olhos para os crimes que ele cometia e incentivando a cometer esses crimes com elogios, promoções”.

Rafael Soares: autor de “Milicianos: Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele”

Na entrevista concedida ao sociólogo Tulio Kahn – consultor do Espaço Democrático e especialista em segurança pública – e aos jornalistas Eduardo Mattos e Sérgio Rondino, âncora do programa, Rafael explicou sobre como as milícias, que nasceram no bairro de Rio das Pedras, na zona Oeste do Rio – pelas mãos de comerciantes que queriam se defender de bandidos – foram capturadas. “Embora as pessoas falem em ‘milícia do Rio’, hoje existem mais de 100 grupos de milícias que se espalham não só por bairros da capital como por municípios do Estado – a Baixada Fluminense, por exemplo, está quase toda dominada”, disse.

Outro aspecto abordado por ele foi em relação à distribuição geográfica, que é muito diferente da do tráfico. “O domínio do tráfico está circunscrito às favelas, aos morros, mas as milícias se expandem pelos bairros, não é um controle 100% armado, não se passa por uma barricada para entrar, é um controle muito mais fluído, o que permite dominar áreas muito mais amplas”, disse.


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