Redação Scriptum
A persistente queda na aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, observada em várias pesquisas de caráter nacional, foi o tema da reunião semanal dos consultores do Espaço Democrático – fundação do PSD para estudos e formação política –, na terça-feira (2). Em palestra do cientista político Rubens Figueiredo, foram apresentados números que, para ele, comprovam que a crescente desaprovação da atual gestão tem força maior nas classes de menor poder aquisitivo.
Figueiredo mostrou, por exemplo, que os resultados de pesquisas realizadas em março indicam que Lula tem 35% de aprovação (ótimo e bom), avaliação muito próxima da que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha na mesma altura de seu governo (abril de 2020), quando 33% dos eleitores consideravam sua gestão ótima e boa.
O cientista político relacionou fatores que podem ter contribuído para a desaprovação do governo, mas disse acreditar que a principal causa para a queda dos índices de aprovação está nas dificuldades enfrentadas pela faixa mais pobre da população, sufocada pelo aumento dos preços dos alimentos.
De acordo com ele, independentemente da inflação para as famílias de menor renda, Lula teria mesmo de enfrentar uma situação mais difícil do que a encarada em seus dois primeiros mandatos.
“Pesquisas como a Ipsos internacional indicam que há um maior oposicionismo no mundo, com a sociedade demonstrando ter menos paciência com as ações de governo. Além disso, o próprio Lula já não é o mesmo, depois de ter passado 580 dias na cadeia, e seu governo já nasceu velho, sem novas pautas, batendo nas mesmas teclas do passado, a exemplo do Minha Casa Minha Vida e da Bolsa Família. Há que considerar ainda que, na eleição de 2022, metade dos eleitores não votaram em Lula, mostrando que houve uma mudança qualitativa e quantitativa na sociedade”, explicou.
Tudo isso, prosseguiu Figueiredo, leva à situação atual, na qual, em seu terceiro mandato, Lula tem contra si um expressivo movimento de direita (no qual o fator anti-Lula é um eixo fundamental), com grande capacidade de mobilização (que sempre foi um diferencial da esquerda), e um Congresso mais complexo, graças ao crescimento da oposição, e com mais força, em razão de conquistas obtidas na gestão de Bolsonaro, como o orçamento impositivo.
O fato, porém, destacou o cientista político, é que dos 160 milhões de adultos brasileiros, cerca de 44 milhões vivem com menos de um salário mínimo por mês e têm de enfrentar uma inflação de alimentos maior do que a inflação geral. “No IPCA-15 (IBGE) de março (0,36%), chamaram a atenção o aumento da cebola (16,64%), ovos (6,24%), frutas (5,81%) e leite longa vida (3,66%)”, lembrou.
Assim, disse, “embora pareça que a economia vai bem, com 2,9% crescimento do PIB no ano passado, desemprego mais baixo, inflação controlada e massa salarial de rendimentos do trabalho com aumento real de 11,7% (melhor resultado desde 1995), o consumo das famílias caiu – 0,2% no último trimestre”.
Nesse quadro, afirmou Figueiredo, apesar de terem surgido diversas explicações para a queda na aprovação de Lula, a exemplo de suas declarações sobre a situação na Faixa de Gaza, do apoio ao governo Maduro na Venezuela e até da questão do não pagamento de dividendos pela Petrobras, o que está pesando mais no aumento da desaprovação do governo é a opinião dos mais pobres.
“Houve queda expressiva na aprovação entre os evangélicos, mas é preciso lembrar que este segmento da população é formado principalmente por famílias de baixa renda. Além disso, as pesquisas mostram que a desaprovação é ainda maior quando se considera a faixa de eleitores com renda de até dois salários mínimos por mês. No caso dos evangélicos, a queda na aprovação entre março de 2023 e março de 2024 foi de -3%. Entre os mais pobres, no mesmo período, a aprovação diminuiu 5%”, concluiu Figueiredo.
Participaram da reunião semanal do Espaço Democrático e debateram o tema com Rubens Figueiredo o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, a secretária nacional do PSD Mulher, Ivani Boscolo, o cientista político Rogério Schmitt, os economistas Roberto Macedo e Luiz Alberto Machado, o sociólogo Túlio Kahn e os jornalistas Sérgio Rondino e Marcos Garcia de Oliveira.