Rogério Schmitt, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Já estamos caminhando para a metade do segundo ano de governo do presidente Lula. E as pesquisas divulgadas nos últimos meses têm sistematicamente apontado para a erosão da popularidade presidencial. Mas é fácil o leitor se perder diante de tantos levantamentos diferentes, feitos por institutos distintos. Assim, resolvi facilitar um pouco a vida dos consumidores habituais de pesquisas, com o objetivo de facilitar a compreensão do que realmente tem acontecido.
Acompanho regularmente as pesquisas de avaliação do governo feitas por 8 institutos distintos, os quais realizaram um total de 38 sondagens entre janeiro do ano passado e março deste ano. Na média, portanto, são 2 ou 3 pesquisas divulgadas a cada mês. Alguns levantamentos são presenciais, enquanto outros são telefônicos. Como condensar de modo coerente um número tão grande de fotografias da opinião pública brasileira?
Os números que apresentarei neste artigo são as médias aritméticas simples das taxas de aprovação e de desaprovação do presidente Lula ao longo dos cinco primeiros trimestres do atual governo (jan/mar de 23, abr/jun de 23, jul/set de 23, out/dez de 23 e jan/mar de 24). O número de pesquisas realizadas em cada trimestre variou entre um mínimo de 4 e um máximo de 10. Penso que a utilização de médias trimestrais reduz significativamente as oscilações numéricas que decorrem seja das metodologias diversas empregadas pelos institutos, seja da sazonalidade decorrente da conjuntura política de curto prazo.
Outro importante esclarecimento diz respeito às variáveis que escolhi para analisar a popularidade do presidente: as taxas de aprovação e de desaprovação. Trata-se de uma mensuração dicotômica da popularidade presidencial, pois obriga os entrevistados a fazer uma escolha entre somente duas alternativas. Por outro lado, esta escolha metodológica me obrigou a deixar de fora as cinco pesquisas feitas pelo tradicional instituto Datafolha, o único que não mede a popularidade presidencial desta maneira.
Como podemos conferir no gráfico acima, é bastante real a erosão de popularidade do presidente Lula ao longo do tempo. Se, por um lado, as suas médias trimestrais de aprovação (sistematicamente próximas da casa dos 50%) sempre estiveram acima das médias de desaprovação, por outro lado é bastante visível que as duas curvas têm se aproximado gradativamente ao longo do tempo. Para usar uma expressão conhecida: a boca do jacaré está se fechando.
O saldo (aprovação menos reprovação) da popularidade de Lula chegou a superar os 20 pontos percentuais no início do seu governo, e permaneceu entre 10 e 15 p.p. no restante do ano passado. Já no primeiro trimestre deste ano, no entanto, este saldo já é inferior a 6 pontos percentuais. Estamos no limiar de um empate técnico, considerando as margens de erro das pesquisas por amostragem.
Nesse sentido, ainda que muita água ainda vá rolar por debaixo da ponte, não seria uma surpresa se as duas curvas se cruzarem no trimestre que está em curso (de abril a junho de 2024). Mas este será o tema de um artigo futuro.
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