Luiz Alberto Machado, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Já afirmei repetidas vezes que tive a sorte de começar a viajar para diversos países muito cedo. Aos 13 anos, em 1968, quando ir ao exterior era um privilégio restrito a pessoas de famílias muito abastadas, fui a Porto Rico e Venezuela como integrante de uma seleção brasileira de biddy-basket (equivalente à categoria mirim no Brasil).
A partir dessa primeira viagem, pude constatar algo de que jamais esqueci: sabendo aproveitar, viajar é uma das formas mais edificantes de aprender. Afinal, como dizia Confúcio: “Eu ouço, eu esqueço; eu vejo, eu lembro; eu faço, eu aprendo”. Ora, qualquer viagem proporciona ao viajante a possibilidade de aprender ouvindo, vendo e experimentando as coisas de um determinado local, resultando num aprendizado bastante efetivo.
De lá para cá, foram incontáveis viagens, tanto dentro do Brasil, onde não estive apenas no Estado de Tocantins, como para o exterior. Quer por meio do basquete (ao qual sou muito grato também por essa razão), quer em atividades acadêmicas ou experiências profissionais, foram cerca de 40 países visitados, alguns por diversas vezes.
Muitos locais me marcaram profundamente, seja pela beleza, pela história ou pela riqueza. Nenhum, porém, me marcou tanto como a China, país em que estive em 2009 coordenando uma delegação de alunos da FAAP numa missão estudantil, que se assemelhava a uma missão empresarial ou diplomática.
Embora tenha passado pouco tempo no país − uma semana em Pequim, uma em Xangai, além de alguns dias em Hong Kong e Macau −, fiquei impressionado com o que vi e senti nesse limitado período. Como li muita coisa antes e depois da viagem, determinadas citações não me saem da cabeça. Vou me referir a três delas. A primeira está no livro China: o renascimento do império (Editora Planeta do Brasil, 2006), escrito pela jornalista Claudia Trevisan, que foi correspondente internacional na China por mais de uma vez. Nele, há uma frase atribuída a Napoleão quando foi interrogado por um de seus comandados sobre o que aconteceria quando o país despertasse depois de uma prolongada estagnação. Sua resposta foi: “Quando a China acordar, ela vai balançar o mundo.”
A segunda citação é de Voltaire, que afirmou em 1764: “Há 4 mil anos, quando não sabíamos nem ler, os chineses conheciam todas as coisas indubitavelmente úteis de que nos jactamos hoje.” Foi extraída do Epílogo do livro O homem que amava a China (Companhia das Letras, 2009), que será objeto do restante deste artigo.
De autoria de Simon Winchester, o livro tem por subtítulo “a fantástica história do excêntrico cientista que desvendou os mistérios do Império de Centro”. Trata-se de uma visão da atualmente superindustrializada China pelos olhos de Joseph Needham, emérito professor de Bioquímica da Universidade de Cambridge, cujos interesses incluíam de motores a vapor e obras de engenharia civil a religião, danças folclóricas, línguas e companhias femininas.
Intrigado com o fato de um país pioneiro em tantas invenções fundamentais para o mundo moderno como a pólvora, a imprensa e a bússola, não ter se industrializado durante o século XIX da mesma forma que os principais países europeus, Needham pôs os pés na China pela primeira vez em 1943.
As inúmeras viagens subsequentes às mais longínquas fronteiras daquele império realizadas posteriormente, em plena ocupação japonesa, podem não ter contribuído para que Needham encontrasse resposta para sua indagação, mas permitiram que ele compreendesse o real tamanho do legado chinês para a história da humanidade. Uma história fascinante sobre inovações surgidas na China e que são hoje desfrutadas por toda a humanidade.
A terceira e última citação também foi extraída do Epílogo do livro O homem que amava a China. Está num cartaz afixado num gigantesco pórtico na entrada da cidade de Jinquan, um dos três mais importantes centros chineses de lançamento de satélites. Escrito com enormes caracteres vermelhos e em letras colossais, em chinês e inglês, o cartaz proclama um sentimento que segue exercendo forte impacto em quem conhece o país. De maneira simples e direta, afirma: “SEM PRESSA. SEM MEDO. NÓS CONQUISTAMOS O MUNDO”.
O Epílogo termina com o seguinte comentário: “Depois de 5 mil anos de paciente espera, observação e aprendizado, chegou enfim a hora do encontro marcado da China”.
Infelizmente, não tive a chance de retornar outras vezes à China para, quem sabe, expandir meu conhecimento sobre o país que disputa com os Estados Unidos a hegemonia da economia mundial e que é, já há alguns anos, o principal parceiro comercial do Brasil e de diversos outros países.
Por sorte, há uma enorme disponibilidade de livros, filmes, documentários e notícias que permitem que eu me mantenha razoavelmente atualizado com o que se passa com esse país que atraiu grande interesse principalmente a partir das mudanças levadas a cabo por Deng Xiaoping em 1978, capazes de permitir um acelerado crescimento, mantendo a estranha combinação − pelo menos para mim − de um sistema econômico consideravelmente aberto com um regime político totalmente fechado, dominado pelo Partido Comunista.
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