Texto Estação do Autor com Estadão
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Mesmo com os avanços na prevenção e no tratamento, o vírus da Aids continua infectando mais de um milhão de pessoas por ano em todo o mundo. Por isso, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, a americana Science, elegeu o desenvolvimento do lenacapavir, droga injetável capaz de prevenir em praticamente 100% dos casos a infecção pelo HIV, como o maior avanço científico de 2024. Artigo de Roberta Jansen publicado no Estadão (assinantes) informa que não se trata de uma vacina, porque a nova droga não ‘ensina’ o sistema imunológico a impedir a entrada do vírus no organismo, mas funciona como um imunizante ao deter a replicação do HIV.
A medicação ainda precisa ser aprovada pelas agências sanitárias (Anvisa, no Brasil, e FDA, nos EUA) e deve estar disponível a partir de 2026. Cada dose oferece proteção por seis meses. Testes clínicos realizados em mulheres e adolescentes na África revelaram proteção de 100%, enquanto testes com pessoas de diferentes gêneros em vários continentes apresentaram proteção de 99,9%.
“No último congresso internacional de HIV e Aids ficou explícito para todos os gestores do mundo que o lenacapavir é a resposta mais próxima à vacina contra o HIV e à eliminação da transmissão do vírus e da síndrome no mundo”, disse Draurio Barreira, diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde na 45ª reunião do conselho executivo do Unitaid em Joanesburgo, África do Sul. A Unitaid é uma organização internacional criada para promover projetos que objetivam ampliar o acesso a medicamentos a preços reduzidos.
A farmacêutica Gilead, responsável pela inovação, fez acordo de licenciamento com seis laboratórios para garantir a produção de uma versão genérica de baixo custo do lenacapavir, que será distribuída para os 120 países mais pobres do globo. As nações consideradas de renda média, como o Brasil e boa parcela da América Latina ficaram de fora dessa lista.
Contudo, há um temor de que os programas de saúde pública desses países não terão condições financeiras de custear o tratamento. Pesquisadores estimam que duas doses anuais do medicamento (que ofereceriam proteção por um ano) custem algo entre US$ 25.395 e US$ 44.918, por paciente.