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{ ARTIGO }

Mesmo homem no mesmo rio

O cenário não é dos mais tranquilos para o governo; há dúvidas sobre se o presidente Lula conseguiria caminhar pela calçada de qualquer cidade brasileira, escreve Rubens Figueiredo

Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

Em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, Lula estava em seu terceiro ano do primeiro mandato. O presidente ídolo das classes populares refletia a esperança dos brasileiros, principalmente os de renda mais baixa. Era um político “diferente”. Alguém que veio de baixo. Não é que ele “sabia” como viviam os pobres, ele “viveu” o que viviam os pobres. No lançamento do programa Sorridente (PT adora um “Programa” com nome bem marketeiro…), Lula disse assim: “Eu sei como o pobre faz quando tem dor de dente. Coloca alho no buraco do dente, faz bochecho com cachaça”. Foi ovacionado.

Também era mais fácil governar naquela época. O Congresso não era tão forte. Os grandes partidos de oposição – PSDB e PFL – somavam 127 deputados e não tinham no seu equipamento genético o DNA da combatividade. Eram sopranos quando deveriam ser puxadores de escola de samba. Quem comandava a opinião pública eram as TVs, principalmente a Rede Globo. As fake news eram bem mais sutis – e quase não tinham contraditório. Uma campanha publicitária do governo bem encaixada na grande mídia tinha a capacidade de melhorar a aprovação do presidente. Tiro e queda. Hoje, há debate se a terra é redonda.

Naquela época, a comunicação institucional do governo e os programas eleitorais foram primorosos. A economia mundial estava uma maravilha e por aqui também ia bem: o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,2% em 2005 e 4% em 2006. Havia muita coisa para divulgar. Novidades como o Bolsa Família, energia para as famílias do Nordeste, Prouni. A comida estava mais barata. O crédito era farto. A população sentia que a vida estava melhorando. A coisa resvalava na euforia. Teve até o simbolismo do fim da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), esse monstro injusto imperialista, que explora países pouco desenvolvidos.

Hoje, a situação é muito diferente. A comparação de 2025 com 2005 faz sentido porque em ambos os casos Lula amargou suas avaliações mais baixas como presidente da República. No seu pior momento do primeiro mandato, Lula ainda tinha 36% de aprovação. Nas pesquisas mais recentes, está com 24% (Datafolha, fevereiro d 2025). O Lula de hoje é muito diferente do Lula de 20 anos atrás. Viveu o escândalo do Petrolão. Foi condenado e preso. Fez o Brasil engolir goela abaixo a presidente Dilma, responsável por uma das piores recessões pela qual qualquer país já passou em tempos de paz. Tem opositores fortes e ativos, que se comunicam bem com a tecnologia de comunicação moderna.

O cenário não é dos mais tranquilos para o governo. A situação internacional está trepidante. A economia estará menos aquecida nos próximos dois anos e até o agiota mais ganancioso está reconhecendo que os juros passam dos limites. O Congresso e o Judiciário estão muito mais fortes e atuantes do que estavam há 20 anos. O Centrão virou um “centrãozão”. A comunicação está muito mais complexa: gastar um dinheirão em propaganda não tem o mesmo efeito. Um vídeo sobre o PIX, postado por um opositor ao governo, teve a maior visualização da história do Instagram: 200 milhões. Existem dúvidas se o presidente Lula conseguiria caminhar pela calçada de qualquer cidade brasileira. Crise é crise e Fênix é Fênix. Mas essa parece ser diferente. E Fênix, também.

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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