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{ ARTIGO }

Meio Ambiente, saneamento e uso sustentável do lodo de esgoto

Mario Eduardo Pardini Affonseca, ex-prefeito de Botucatu, escreve sobre aplicações do lodo que contribuem para a preservação ambiental

Mario Eduardo Pardini Affonseca, engenheiro civil, administrador de empresas e ex-prefeito de Botucatu (SP), e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

 

A esfera dos temas ambientais ganhou enorme relevância nos últimos anos. As suas diferentes dimensões têm inesgotáveis impactos – e apenas para citar um dos campos deste universo que é tão intricado e importante, brevemente vale pontuar a relevância econômica dos aspectos relativos ao meio ambiente sobre a vida em sociedade. Podemos explorar diferentes números sobre o impacto para o planeta das questões de meio ambiente, como dado da ONU (Organização das Nações Unidas) que sugere custos globais da ordem de US$ 387 bilhões ao ano para que o mundo se adapte às mudanças climáticas. De tal sorte transversal e relevante, portanto, este universo merece toda atenção: de todos nós, da população, de governos e empresas. E componente muito importante dos temas ambientais e do encaminhamento que recebem é o saneamento.

É possível desenvolver amplamente os temas do saneamento, explorar interessantes discussões relacionadas a este tema e fazer reflexões que se inserem na vida nas cidades, por exemplo. Vale citar aspectos como a necessidade de o país ampliar efetivamente os seus investimentos em saneamento de forma a cumprir com a meta estabelecida no Marco legal do setor, a Lei 14.026/20, de universalização dos serviços no Brasil, e com isso, entre uma série de outros resultados ter reduzidos os gastos decorrentes do déficit de cobertura em serviços de água e esgoto e seu resultado sobre doenças e o SUS (Sistema Único de Saúde).

O saneamento vem avançando, temos o seu Marco Legal em vigor, e é preciso perseguir avanços. Destaco também, brevemente, estudo do Instituto Trata Brasil que sugere que a universalização do saneamento básico pode gerar mais de R$ 1,4 trilhões em benefícios socioeconômicos para o Brasil em menos de 20 anos.

Estações de tratamento de esgoto e suas redes, assim como unidades produtoras de água e as suas redes são entregues pelo país, contribuindo com a busca por esses objetivos.

Dito isso, dentro deste campo, quero trazer algumas breves reflexões sobre alternativas para o uso sustentável do lodo proveniente das ETEs (as estações de tratamento de esgoto). De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), menos de 5% do lodo sanitário é reaproveitado no país. E, sim, pode ser reaproveitado.

Estamos falando de volumes que são da ordem de 250 mil a 300 mil toneladas ao ano, estimativa para a produção anual de lodo seco de esgoto no país consolidada pelo Sinisa (Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico). Grande parte desses resíduos são dispostos ainda em aterros sanitários, devido a aspectos como limitações de infraestrutura nos municípios, ausência de regulamentação para o reaproveitamento e sobretudo por desconhecimento de alternativas e possibilidade econômicas para o uso deste material.

Vale destacar também que o descarte do lodo de esgoto tem impactos significativos nos aterros sanitários, tanto do ponto de vista ambiental quanto operacional. Entre outros aspectos, a excessiva ocupação de espaço nos aterros (o lodo é resíduo de alto volume e, mesmo após processos de desidratação ou secagem, ainda contém uma parcela significativa de umidade, entre 60 e 80%. E, devido ao elevado teor de umidade, não é qualquer aterro que recebe lodo de esgoto, devido a instabilidade que um material com alta umidade pode gerar no aterro. Oferece também riscos ambientais se descartado irrefletidamente nos aterros sanitários, por exemplo contribuindo com o aumento da produção de chorume, resíduo decorrente da decomposição de matéria orgânica. E também pode contribuir com aumento das emissões de GEE (gases de efeito estufa) ou também agredir o meio ambiente pela contaminação por metais pesados.

A rigor há uma infinidade de aspectos a “desdobrar” quanto ao descarte do lodo de esgoto nos aterros sanitários, mas esses já permitem uma breve compreensão do cenário.

Passo então a delimitar algumas aplicações do lodo de esgoto, iniciativas que se alinham à contemporaneidade e contribuem com o que mencionei no início deste breve texto: a importância da discussão e preservação ambiental e seus impactos sobre a sociedade.

É possível, a partir de estudos e com técnicas e aplicação tecnológica adequada, empregar estes resíduos para o uso agrícola, como fertilizantes orgânicos, o que também se observa em outra possível aplicação relacionada ao agronegócio: o emprego como material de compostagem. A compostagem do lodo, muitas vezes combinada com outros resíduos orgânicos, resulta em um composto estável e rico em nutrientes, adequado para uso agrícola e paisagístico. Este processo reduz o volume de resíduos e minimiza os impactos ambientais.

Menciono ainda o emprego de resíduo que não é de esgotos mas é subproduto relevante das atividades de saneamento. Trata-se da aplicação do lodo de estações de tratamento de água na Construção Civil: o lodo pode ser incorporado na fabricação de produtos cerâmicos, como telhas, tubos, tijolos e lajotas, servindo como matéria-prima alternativa e contribuindo para a economia circular.

Citei essas possíveis destinações de forma sustentável e contribuinte com a economia e a preservação do meio ambiente para o lodo que é produzido em abundância, por todo o país. Destaco que há uma série de outros aspectos, também em outras aplicações, e convido a todos que façam reflexão sobre este tema.

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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