
Os federais descobriram pelo menos nove agentes russos operando sob identidades brasileiras; seis nunca haviam sido identificados publicamente até agora
Edição Scriptum com The New York Times e O Globo
Durante anos, segundo uma investigação do jornal americano The New York Times após o caso ser revelado pelo jornal O Globo e outros veículos brasileiros, a Rússia usou o Brasil como ponto de partida para seus agentes de inteligência de elite, os chamados “ilegais”. Em uma operação audaciosa e abrangente, esses espiões apagaram os rastros de seu passado russo, abriram negócios, fizeram amigos e tiveram casos amorosos — experiências que, ao longo de muitos anos, tornaram-se os alicerces de identidades novas.
Grandes operações de espionagem russas já foram descobertas no passado, inclusive nos Estados Unidos, em 2010. Desta vez, foi diferente. O objetivo não era espionar o Brasil, mas, sim, tornar-se brasileiro. Sob o disfarce de identidades confiáveis, os agentes depois partiam para os EUA, Europa ou Oriente Médio para, enfim, começar a trabalhar a sério. Reportagem de Michael Schwirtz e Jane Bradley para o The New York Times e publicada em O Globo nesta quarta-feira (21) revela como os russos transformaram o Brasil em uma linha de montagem para agentes secretos (leia a íntegra aqui).
Um deles abriu uma joalheria. Outro era uma modelo loira de olhos azuis. Um terceiro foi aceito em uma universidade americana. Havia um pesquisador brasileiro que conseguiu emprego na Noruega e um casal que acabou indo para Portugal. Até que tudo veio abaixo com uma investigação da Polícia Federal.
Os federais descobriram pelo menos nove agentes russos operando sob identidades brasileiras, de acordo com documentos e entrevistas. Seis nunca haviam sido identificados publicamente até agora. A investigação já abrangeu ao menos oito países, segundo autoridades, com informações vindas dos Estados Unidos, Israel, Holanda, Uruguai e outros serviços de segurança ocidentais.
Desmantelar a fábrica de espionagem do Kremlin foi mais do que uma simples ação rotineira de contraespionagem. Foi uma resposta aos prejuízos causados por uma década de ofensiva russa. Espiões russos ajudaram a abater um avião de passageiros que decolou de Amsterdã, em 2014. Interferiram em eleições nos Estados Unidos, França e outros lugares. E ainda envenenaram supostos inimigos e planejaram golpes.