Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
O estado de espírito da nossa opinião pura está mais para fluoxetina do que para clericot. Muito mais Dolores Duran do que Zeca Pagodinho. Instados pelo Datafolha, em junho de 2025, a responderem como se sentem diante de ideias dicotômicas, os brasileiros se declaram mais inseguros (73%) do que seguros (26%), mais desanimados (64%) do que animados (35%), mais tristes (63%) do que felizes (34%) e o medo em relação ao futuro atingiu o maior patamar na série histórica do Instituto: 63%.
Na maior parte de seus primeiros dois mandatos, Lula foi mais que um presidente: era quase um imperador. Só alegria! Em 2002, foi eleito com o beneplácito de seu antecessor. Em agradecimento, alardeou uma “herança maldita” que não existia. O que ele falava representava a verdade. Nunca ninguém havia feito nada na história desse País antes dele. Bons tempos: combatividade não estava no DNA do PSDB e do PFL. Em pleno escândalo do mensalão, os adversários preferiram deixá-lo sangrar. Em termos de avaliação de cenário e escolha estratégica, nem Chamberlain e Lord Halifax erraram tão feio. Lula voltou com tudo, elegeu a Dilma e virou presidente pela terceira vez depois de uma temporada preso.
Mas o mundo gira e a Lusitana roda. Hoje, o presidente tem uma avaliação administrativa modesta (40% aprovam e 57% desaprovam seu governo), segundo a Genial/Quaest de junho 2025. No que se refere à intenção de voto, o ex-imperador estaria empatado tecnicamente em um hipotético segundo turno com Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro, Ratinho Jr. e Eduardo Leite. Seu índice de rejeição chegou a inacreditáveis 57%, muito parecido ao de Bolsonaro (55%). É o maior que o petista já teve na história, segundo o mesmo instituto.
Além desse divórcio de uma sociedade com a paciência de motoboy paulistano em dia de chuva, o Executivo federal está em fase de DR (discutir relações) com o Congresso. O novo e jovem presidente da Câmara, Hugo Motta, dá lições e prazos ao governo, condicionando o apoio a alta de impostos proposta pela área econômica à adoção de cortes de gastos a ser promovido pelo Planalto. Os parlamentares não acham muita graça em aprovar medidas impopulares ao mesmo tempo em que Lula, posando de bonzinho, distribui vale gás e vale energia Brasil adentro ao mesmo tempo que passa por situações constrangedoras mundo afora.
Bom mesmo era ser imperador…
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