
Entre 2010 e 2023, 1,4 milhão de motociclistas foram internados após acidentes, o que corresponde a 57,2% de todas as internações associadas a lesões de trânsito no País.
Edição Scriptum com Estação do Autor e Agência Brasil
O alarmante aumento de acidentes envolvendo motos no trânsito das cidades brasileiras está causando um grave problema no sistema público de saúde. Cirurgias eletivas de alta complexidade, que só podem ser atendidas pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) no SUS, têm sido adiadas para que os recursos da unidade sejam direcionados para vítimas de colisões, atropelamentos e quedas envolvendo motocicletas.
Reportagem de Vinícius Lisboa para a Agência Brasil mostra o impacto na saúde pública da epidemia de lesões sofridas sobre duas rodas.
Em 2024, 1.450 cirurgias eletivas de alta complexidade deixaram de ser realizadas no Into por causa das transferências de emergência. Um em cada cinco desses pacientes transferidos havia sofrido uma lesão grave em uma moto. Segundo o instituto, quando uma cirurgia de emergência com trauma ortopédico chega à unidade, cinco pacientes que aguardavam na fila deixam de ser atendidos conforme o programado.
Os dados do Sistema de Informações Hospitalares do Ministério da Saúde apresentados na Conferência Nacional de Segurança no Trânsito, no fim de julho, mostram que, entre 2010 e 2023, 1,4 milhão de motociclistas foram internados após acidentes, o que corresponde a 57,2% de todas as internações associadas a lesões de trânsito no País.
As internações de motociclistas exigiram uma soma de mais de R$ 2 bilhões, ou 55,2% de tudo o que foi investido em gastos hospitalares de vítimas de trânsito. Além disso, dados preliminares do Viva Inquérito 2024, realizado pelo Ministério da Saúde, indicam que 20,8% dos acidentados atendidos eram trabalhadores de aplicativos.
Diretora-geral do Into, Germana Lyra Bähr explica que uma cirurgia de urgência de vítimas do trânsito tem um custo maior para o instituto do que uma eletiva. O aumento desses casos preocupa o Into e o sistema de saúde como um todo porque já era esperado que o envelhecimento da população demandaria cada vez mais cuidados de ortopedia e traumatologia.
Martha Menezes Lucas, terapeuta ocupacional do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia relata que esses pacientes sofrem frequentemente com limitações graves e permanentes, que geram perda de qualidade de vida e condições laborais. Isso se torna mais dramático porque também é comum que sejam trabalhadores informais que não contribuem para a Previdência Social.