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{ ARTIGO }

Do Oiapoque à Chaui

Para Rubens Figueiredo, tem gente que pensa que o mundo de hoje é uma reprodução da Inglaterra do século 19

Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

O domingo corria ensolarado, tranquilo, com todas as possibilidades de um domingo. Aí você se depara com uma entrevista de Marilena Chaui na Folha de S.Paulo, cujo título é Marxista pra valer. Prenúncio de pensamentos nebulosos começam a se acumular no horizonte. Perspectivas de raciocínios desconexos e frases empoladas que revelam um anacronismo doloroso “oprimem como um pesadelo o cérebro dos vivos”.

Algumas premissas orientam suas “análises”. Ela pensa que o mundo de hoje é uma reprodução da Inglaterra do século 19. O sistema capitalista, ensina, tem duas classes fundamentais: a trabalhadora, que produz a mais valia, e a burguesia. O papel da burguesia é explorar o trabalhador. É a visão “ptolomêutica” da sociedade.

A burguesia é a vilã por natureza, mas as baterias da filósofa se assestam em direção à classe média, da qual, suponho, ela faz parte. A classe média não sabe muito bem onde está. Tem o sonho de se tornar burguesa – ou seja, de explorar os outros – e medo de virar proletariado. Não sei o valor heurístico do sentimento ou se a dramaticidade da revelação tem algum impacto do ponto de vista epistemológico, mas ela faz questão de ressaltar que odeia a classe média até o fim dos seus dias.

Chaui culpa o neoliberalismo pelas mazelas do mundo. Parte de uma premissa equivocada: “a primeira tarefa que o neoliberalismo se deu foi de dizer que os Estado não pode ter gastos sociais”. Balela. Em 1980, pré-Reagan, portanto, os gastos com programas sociais nos Estados Unidos eram de 13,6% do PIB. Em 1989, haviam subido para 14,8%. Com Thatcher também houve crescimento: de 16,5 para 18,7%.

Mas a nossa filósofa avança. Esclarece que o mundo neoliberal – que desregula e aumenta a liberdade dos agentes econômicos – é, pasmem, totalitário. Isso porque todas as formas de relações sociais seriam idênticas. Segundo Chaui, “sem a determinação econômica e a compreensão de como a sociedade se estrutura em classes antagônicas, não dá para fazer nada”. Trata-se de um raciocínio bastante rudimentar, tosco mesmo, que não chega nem perto de resvalar na explicação daquilo que acontece na sociedade altamente complexa e tecnológica na qual vivemos hoje.

Além de odiar a classe média, Chaui tem ainda uma relação de “antagonismo” com o mundo digital. Diz que nem sabe o que é “essa coisa chamada WhatsApp”. Ela diz que o mundo da percepção está destruído, porque o celular é o “mundo imaginário da imagem”, como se uma imagem não fosse algo real. Ao invés de achar que o mundo digital amplia, ela acha que reduz. Já tive domingos melhores.

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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