Pesquisar

tempo de leitura: 3 min salvar no browser

{ ANÁLISE }

Negociação entre Brasil e EUA para redução de tarifas tem forte obstáculo

Para o economista Lucas Ferraz, especialista em relações comerciais, Marco Rubio, o negociador americano, pode ser um entrave

Reunião semanal de colaboradores do Espaço Democrático

Redação Scriptum

As perspectivas de negociação comercial abertas com a conversa de 30 minutos entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump, foi um dos temas da reunião semanal do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD – nesta segunda-feira (6), em São Paulo. O outro assunto abordado foi a compra, pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), de 70% da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), empresa paulista de energia.

O economista Lucas Ferraz, coordenador do Centro de Negócios Globais da FGV e ex-secretário do Comércio Exterior do Brasil, afirmou, em sua análise, que uma reunião entre presidentes, sobretudo a primeira, não tem nenhum resultado concreto. “E é preciso lembrar uma coisa que não é comum acontecer: este é apenas o contato inicial entre os dois desde a posse de Trump; Lula nem ao menos parabenizou-o pela posse e se recusou a procurá-lo até mesmo quando as tarifas foram elevadas inicialmente para 10%, em abril”.

Para Ferraz, o único dado concreto da conversa é preocupante: a indicação do secretário de Estado americano, Marco Rubio, como principal interlocutor da equipe que iniciará as negociações com o time brasileiro, formado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. “Trump designou aquele que entre os seus secretários é o mais ideológico, que foi favorável às sanções de 50% contra o Brasil e defendeu isso internamente”. Para ele, o usual, por se tratar de questões comerciais, seria a indicação de Howard Lutnick, Secretário do Comércio dos Estados Unidos, ou até mesmo Scott Bessent, secretário do Tesouro. “Os dois não eram favoráveis às sanções impostas ao Brasil”, apontou. “Eu não apostaria que a gente consiga algum progresso significativo com Rubio do outro lado”.

O economista destacou que a indicação de Rubio leva à percepção de que dificilmente o Brasil alcançará uma negociação que não leve fazer concessões. “E esta é uma questão importante: qual gesto o Brasil estaria disposto a fazer para reduzir a quantidade de produtos que estão na lista dos 50%?”, questiona. “Os Estados Unidos não vão dar isso de graça e os temas de interesse deles estão na mesa: a tarifas de 18% que o Brasil cobra do etanol, que é uma demanda antiga, a regulamentação das big techs, os atrasos do INPI para oficializar as patentes de propriedade intelectual, sobretudo de produtos farmacêuticos, e o PIX, por exemplo”. Para Ferraz, o cenário é muito complexo e Trump gosta de manchetes que o mostrem como vencedor. “Todas as negociações anteriores foram assimétricas, Trump não perdeu em nenhuma”.

Sabesp e EMAE

O gestor público Mario Pardini, ex-prefeito de Botucatu (SP), fez uma análise da compra, pela Sabesp, de 70% das ações da EMAE por R$ 1,1 bilhão. A EMAE opera um sistema hidráulico e de geração de energia elétrica localizado na Região Metropolitana de São Paulo, Baixada Santista e Médio Tietê.

A aquisição terá de ser aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas antes disto já está sendo contestada na Justiça pelo fundo FIP Phoenix – controlado pelos empresários Nelson Tanure e Tércio Borlenghi Junior – que arrematou o controle da empresa em leilão promovido pelo Governo de São Paulo, em abril de 2024. O FIP Phoenix havia dado as ações da EMAE em garantia para uma operação de emissão de debêntures e, no cronograma de vencimentos, a primeira parcela deveria ser paga em 27 de setembro, o que não aconteceu. Vórtx e XP, avalistas da dívida, declararam o vencimento integral da dívida em 30 de setembro.

Apesar do imbróglio judicial que não tem prazo para ser resolvido, Pardini considera a operação de compra pela Sabesp como extremamente positiva. “É um negócio estratégico para a empresa em função do potencial de ampliação do abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo e a Baixada Santista”, acredita ele. “A Sabesp comprou o poder de controle da operação de integração do sistema Guarapiranga e Billings, o que traz versatilidade para a manutenção de vazão em São Paulo e na Baixada quando for necessário; ao contrário da Sabesp, a EMAE está focada na geração de energia elétrica, o que será uma operação secundária para a Sabesp”.

Também participaram da reunião semanal do Espaço Democrático, coordenada pelo jornalista Sérgio Rondino, o superintendente da fundação, João Francisco Aprá, os economistas Luiz Alberto Machado e Roberto Macedo, os cientistas políticos Rubens Figueiredo e Rogério Schmitt, o sociólogo Tulio Kahn, o gestor público Januario Montone, o professor pós-doc da USP José Luiz Portella, o médico sanitarista e ambientalista Eduardo Jorge, os advogados Roberto Ordine e Helio Michelini, o coordenador nacional de Relações Institucionais da fundação, Vilmar Rocha, e o jornalista Eduardo Mattos.


ˇ

Atenção!

Esta versão de navegador foi descontinuada e por isso não oferece suporte a todas as funcionalidades deste site.

Nós recomendamos a utilização dos navegadores Google Chrome, Mozilla Firefox ou Microsoft Edge.

Agradecemos a sua compreensão!