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Taxonomy - Destacão
A diferença política entre os moderados e os extremistas
Rogério Schmitt defende que, nas redes sociais, o ódio é prejudicial à nossa saúde mental; na política, não faz bem para a democracia
Rogério Schmitt, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Recentemente compartilhei em minhas redes sociais uma frase com a qual me identifiquei bastante – ainda que seja de autoria desconhecida – e que diz simplesmente: “Promova o que te encanta ao invés de atacar o que te desagrada”.
Há muitos anos já procurava seguir essa filosofia em minhas interações nas plataformas virtuais. Esse sábio princípio me levou a fugir de todas as “tretas” que diariamente infestam as redes sociais.
Em nome da minha própria sanidade, já mandara às favas os algoritmos de ódio das big techs. Não fico batendo boca por bobagens e também silencio os perfis daqueles que fazem disso uma obsessão.
Mas o meu treinamento de cientista político acabou por me fazer refletir também sobre a aplicabilidade deste mesmo princípio para o mundo da política real.
E não é que ele tem ao menos uma utilidade prática também nesse outro campo?
Acredito estar diante de um critério instrumental muito valioso para também diferenciar a política moderada da política extremista.
Na esquerda ou na direita, os moderados prioritariamente promovem aquilo que os encanta, buscando a construção de consensos entre diferentes concepções do bem comum.
Já os extremistas (de direita ou de esquerda) priorizam atacar aquilo que os desagrada. Se acham portadores de verdades absolutas, e preferem desqualificar os que pensam diferente.
Essa me parece ser justamente a diferença, no campo da esquerda, entre progressistas e revolucionários e, no campo da direita, entre conservadores e reacionários.
Há diálogos possíveis e frutíferos entre progressistas e conservadores, mas tal atitude é virtualmente impossível entre reacionários e revolucionários.
No fundo, talvez eu esteja somente descrevendo com outra linguagem aquilo que tantos autores clássicos da ciência política já estudaram em outros momentos. Nas redes sociais, o ódio é prejudicial à nossa saúde mental. Na política, o ódio não faz bem para a democracia.
Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkCongresso suja a Ficha Limpa
Mara Gabrilli defende que alterar a legislação sem consulta popular é desqualificar a democracia e desrespeitar a vontade dos brasileiros
Mara Gabrilli, senadora pelo PSD de São Paulo e integrante do Comitê da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre os direitos das pessoas com deficiência
Indignação. Se uma palavra pudesse resumir minha sensação no momento, essa me descreve bem. Em tempos em que os brasileiros mais carecem de bons exemplos, o Senado segue a decisão da Câmara e aprova o projeto de lei complementar 192 de 2023, que enfraquece a Lei da Ficha Limpa ao unificar a suspensão dos prazos de inelegibilidade determinados. Um desmonte da lei em seu cerne, que é o de deixar fora do pleito por duas eleições políticos que foram condenados.
Na tentativa de atenuar o estrago, o Senado ainda conseguiu, por emenda do senador Sergio Moro, evitar que o prazo de inelegibilidade fosse reduzido também para condenados por crimes graves como homicídio, corrupção, peculato e crimes hediondos e praticados por organizações criminosas.
Ainda assim, a lei não deveria ter sido alterada – especialmente para ter se tornado mais permissiva, ao diminuir o período de inelegibilidade para crimes como improbidade administrativa e contra o meio ambiente, a economia popular, a fé pública, o sistema financeiro, entre outros. E tudo isso sem que houvesse a possibilidade de uma audiência pública para ouvir a sociedade.
Permitir que políticos condenados possam voltar a disputar eleições em prazos menores é uma ameaça que mina a confiança já fragilizada do brasileiro nas instituições democráticas. Não se trata de impedir a reabilitação de quem errou, mas de mostrar que a política está no lugar de dar exemplo, não de conivência com desvios éticos. Foi uma sociedade civil que honra, de forma clara, que demonstrou que os critérios de elegibilidade eram mais exigentes, e que os condenados políticos ficavam longe das urnas até que estivessem, de fato, aptos a representar o interesse público.
Aprovada em 2010, a lei complementar 135 de 2010, a Ficha Limpa, é fruto de uma mobilização popular histórica. Foram mais de 1,5 milhão de assinaturas da sociedade em apoio à lei. Falamos de brasileiros que clamavam por proteção e critérios mais rígidos para a elegibilidade de candidatos a cargos públicos.
Diferentemente de opiniões debatidas em Plenário, onde sobra para o povo só assistir, a Lei da Ficha Limpa foi uma ocorrência que veio das ruas, de cidadãos que se cansaram de acompanhar a impunidade e a corrupção. Um marco civilizatório que nos orgulhava. O Congresso, sob o suposto pretexto de modernização da legislação, desmantelou a proposta.
Alterar a Lei da Ficha Limpa, sem consulta popular, é um desrespeito à vontade dos brasileiros. É desqualificar a democracia e deixar no ar que tudo vale no Congresso, até a normalização de práticas que podem causar danos ao País. E por danos, não custa lembrar: a corrupção tira daqueles que menos têm. Um efeito em cascata onde aumenta a desigualdade social e a pobreza.
Só diminuímos a confiança do cidadão comum, que já distante dos grandes debates do Congresso, deixa de ter fé nas instituições. É um país que não acredita em seus representantes, ficando ainda mais próximo de um Estado que beira a falência de valores.
Tetraplégica desde os 26 anos, entrei para a política pela porta da ética. Não sabia de meandros, mas de honestidade e força de vontade para transformar as coisas. Minha única certeza sempre foi a de que nada poderia ser feito sem consultar a sociedade civil, porque, para mim, legislar é um exercício de saber ouvir.
Foi assim que cheguei longe. Foi com esse pensamento que confrontei em plenário o então deputado Eduardo Cunha, que de forma rasteira tentava impedir que o Conselho de Ética fizesse a leitura do relatório que pedia sua cassação. Cunha renunciou à presidência da Câmara. Em 2017, foi condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Ele, como é sabido por muitos, pode ser um dos beneficiados com a aprovação do projeto que alterou a Lei da Ficha Limpa. Um sinal de que parte do Congresso deu amém ao autor da proposta, diga-se de passagem, filha do deputado. História digna de roteiro bem estruturado de filme. Pena ser realidade.
Definitivamente, esse é um Congresso que nenhum brasileiro, seja da direita, centro ou esquerda, deseja. Esse é um cenário em que o Congresso brasileiro não deveria, jamais, fazer parte.
Artigo publicado no site Poder 360 em 9 de setembro de 2025.
Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Card link Another linkPreservação da Amazônia deve ser responsabilidade mundial
Samuel Hanan, integrante do Conselho Curador do Espaço Democrático, lançou seu novo livro no auditório da fundação
[caption id="attachment_40313" align="alignleft" width="317"] Samuel Hanan, autor do livro, e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab[/caption]
Redação Scriptum
O engenheiro e empresário Samuel Hanan lançou nesta segunda-feira (8), em São Paulo, o livro Amazônia – Preservar para viver, responsabilidade mundial. Hanan conhece como poucos a realidade local: nascido em Manaus, onde cresceu, foi vice-governador do Amazonas entre 1999 e 2003 e estuda há décadas as questões locais e regionais.
Dezenas de pessoas participaram da solenidade de lançamento da obra, no auditório do Espaço Democrático – a fundação para estudos e formação política do PSD –, entre as quais o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab. Hanan destacou que “o mundo fala em preservar a Amazônia, mas ninguém fala em resgatar as mais de 18 milhões de pessoas que vivem nos Estados da região e que até agora conservaram a floresta” – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Integrante do Conselho Curador do Espaço Democrático, Hanan destaca, logo na introdução do livro, que “nunca perdeu a indignação diante do descaso, da incompetência, má vontade ou mal-feitos dos governantes”. Para ele, “é fundamental que o mundo encare de maneira diferente a questão da preservação: já não cabe mais a cobrança exclusiva ao Brasil”. Por isso, ele espera que a obra possa contribuir com os debates da COP 30, a cúpula mundial sobre mudanças climáticas, que será realizada em Belém, em novembro.
Card link Another linkA verdade é o primeiro passo para transformar o País
Faria muito bem ao País se o jornalismo fizesse um contraponto às inverdades contidas nas narrativas do governo, comparando o discurso oficial com os dados igualmente oficiais, escreve Samuel Hanan
Samuel Hanan, ex-vice-governador do Amazonas, engenheiro especializado em economia e colaborador do Espaço Democrático Edição Scriptum O Brasil é um País no qual a narrativa se impõe sobre a verdade. Não é uma realidade nova, porém muito acentuada com o fenômeno das redes sociais que ocupam cada vez mais espaço no cotidiano das pessoas, disseminando inverdades e inflamando discursos de ódio com potencial explosivo para a polarização da qual a nação não consegue se libertar. Colabora para esse cenário a postura quase passiva da grande mídia, ainda incapaz de fazer frente à nova realidade, também porque praticamente vem abdicando de exercer seu papel mais relevante - o de questionar sempre e com profundidade -, cedendo cada vez mais espaço para a cobertura supérflua de pseudocelebridades. "Jornalismo é questionar, o resto é chapa‑branca", diz a frase atribuída ao norte-americano Joseph Pulitzer, que merece ser lembrada no momento. Faria muito bem ao País se o jornalismo brasileiro fizesse, de fato, um contraponto às inverdades contidas nas narrativas do governo, comparando o discurso oficial com os dados igualmente oficiais e contextualizando tudo com a realidade vivida por mais de 200 milhões de cidadãos. Um exemplo: o Brasil ostenta a nona ou décima posição entre as maiores economias do mundo, com Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 12,6 trilhões, o equivalente a US$ 2,2 trilhões. No entanto, no ranking do PIB per capita, o País ocupa a vergonhosa 81ª colocação, pois o PIB per capita nacional é de apenas US$ 10,82 mil por habitante/ano, bem inferior à média mundial, de US$ 14,45 mil. Esse número, por si, contrasta com o ufanismo do governo e desnuda a abissal discrepância entre a riqueza do País e a distribuição de renda e a qualidade de vida de seu povo. Outro dado pouco divulgado é que no trimestre de março a maio de 2025 a massa salarial dos trabalhadores foi de R$ 355 bilhões, o correspondente a apenas 11,3% do PIB no mesmo período. Esses números mostram claramente o Brasil na contramão dos 37 países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Igualmente grave é a recente revelação feita no final de maio pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Desenvolvimento Social, apontando que em 12 das 27 unidades da Federação (26 Estados mais o Distrito Federal), o número de beneficiários do Bolsa Família é maior do que de trabalhadores com carteira assinada. Enquanto o governo comemora o crescimento dos empregos formais, em quase metade dos estados do País – notadamente no Norte e Nordeste – há mais gente vivendo do programa de transferência de renda do governo do que do emprego, uma dependência que merece reflexão porque o sucesso de um programa desse porte, criado para combater a pobreza, deveria ser medido pelo número de pessoas que deixam de depender dele, e não pelo volume de atendidos. Temos mais de 21 milhões de famílias vivendo com menos de R$ 800,00 por mês. Segundo o IBGE, 14,2% dos trabalhadores brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza, com renda mensal de até R$ 665,00, menos da metade um salário-mínimo. Mais de um terço deles (35,6%) têm renda mensal de até um salário-mínimo (R$ 1.518,00), e 70% vivem com menos de 2 salários-mínimos/mês). É o retrato da penúria da população. Esses dados e o recente estudo do Atlas Mobilidade Social mostram, de forma inequívoca, que as políticas públicas fracassaram e já comprometem as gerações futuras, pois não há esperança de ascensão social e os indicadores de educação são muito ruins. Está claro que oferecer mais do mesmo não funciona há alguns anos. Também não se sustenta o discurso do governo de que a pobreza avassaladora é culpa das classes empresariais “que não querem pagar imposto”. Vamos aos números. O brasileiro paga em tributos o equivalente a 142 dias de trabalho. Isto é: tudo o que o cidadão ganha de 1º de janeiro a 22 de maio vai para o governo. Esses tributos, somados, correspondem a 34% - o equivalente a 35% do PIB. Portanto, pouco mais de um terço de todas as riquezas produzidas anualmente no Brasil é resultado do suor dos trabalhadores. A culpa, porém, é sempre atribuída aos governos anteriores, como um salvo-conduto que se repete, como se os gestores não fossem eleitos justamente para buscar soluções para os problemas nacionais, conforme prometem nas campanhas eleitorais. Aliás, a maioria dos candidatos sucumbiria se houvesse detector de mentiras nos debates. Vale lembrar que o governo atual está no comando do País há dois anos e meio e presidiu a nação por quase 11 dos últimos 23 anos, ou seja, 48% do período. E o seu partido governou por 17 anos (74% do total do período), com apenas duas figuras. Os problemas persistem, com gritantes desigualdades sociais e regionais, e não se questiona qual é o plano de governo. Qual é a política industrial? Qual é o percentual da trilionária arrecadação de tributos destinado a investimentos? Qual é a evolução dos programas de saneamento básico, essencial para melhorar a qualidade de vida e a saúde de milhões de brasileiros? Quantos dos 21 milhões de chefes de família deixam o Bolsa Família por ascensão social? São perguntas que deveriam ser feitas diariamente pelos eleitores e pela mídia. Há muito tempo o Brasil tem um governo perdulário, incapaz de cortar gastos, tímido em transparência, generoso na concessão de benefícios tributários e sempre com enorme apetite para aumentar impostos. Não é por acaso que temos uma das maiores cargas tributárias do planeta. Nesta nação cheia de contrastes, o governo recordista em arrecadação via tributos não destina recursos suficientes para libertar os cidadãos mais pobres das migalhas doadas nem para investir em educação em tempo integral, preferindo subsidiar privilégios, como se o País revivesse as primeiras décadas do colonialismo português com as capitanias hereditárias. Assim, a educação patina, como mostra a comparação com outros países; e a segurança já supera a saúde entre as maiores preocupações da população. Governa-se o País como um concordatário que não tem de prestar contas a ninguém. Isso reclama o aperfeiçoamento dos órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União (TCU) e os Tribunais de Contas Estaduais (TCEs), cuja composição não pode ser mais objeto de compadrios e acordos políticos e tem de passar a ser definida por concursos públicos sérios e transparentes, com avaliação periódica dos aprovados. A vitaliciedade também precisa ser rediscutida pela sociedade. Faria muito bem ao País se fosse abolido o foro privilegiado para qualquer detentor de mandato eleitoral e voltasse a ser proibida a reeleição para cargos do Executivo, além de se tornar imprescritíveis os crimes cometidos contra a administração pública. Representaria o combate efetivo a alguns dos maiores males do País, ao lado das mentiras, todos responsáveis por contaminar os governos e que precisam ser trazidos à tona pela mídia para esclarecer a sociedade. O País se ressente da falta de informações verdadeiras e de análises críticas e isentas. Esse papel deve ser resgatado pelas rádios (ainda com grande força entre a população), emissoras de televisão, jornais e portais na internet, a fim de que os mais de 155 milhões de eleitores votem de forma consciente e não se deixem iludir por promessas de campanha que quase nunca são concretizadas, nem sejam enganados com peças de propaganda criadas para mostrar um País muito diferente daquele onde vivem os cidadãos. Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
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