Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
De 1986 a 1992, o Xou da Xuxa, da Rede Globo, era a atração preferida das crianças, dos irmãos e primos mais velhos das crianças, papais, titios e, em muitos casos, vovôs. Em 1989, chegou a 35% de audiência na Grande São Paulo. Um fenômeno. A sensualidade imperava. Foi o único programa infantil da história da humanidade que deveria ser proibido para menores de 18 anos.
A apresentadora que fazia a cabeça das criancinhas a partir dos oito anos aparecia em trajes, digamos, de acentuado caráter tropical, e havia posado nua nas revistas masculinas Playboy e Status, entre 1979 e 1982. As fotos foram consideradas ousadas para o padrão vigente. Também havia protagonizado um filme no qual teve relação sexual com um pré-adolescente, em cenas que seriam classificadas como muito próximas de explícitas nos dias de hoje.
E havia as paquitas, ajudantes de palco que usavam uniformes insinuantes – micro shorts, barriguinha de fora, tops que desafiavam a lei da gravidade e botas de cano alto. As vedetes do Moulin Rouge se sentiriam alunas do Sacre Coeur vendo aquilo. Meninas nos seus quinze anos rebolavam antecipando tendências do funk e procuravam o close da câmera para demonstrar excitação com os toques nos quadris que a apresentadora lhes aplicava.
A coisa não parava por aí. Em um dos vídeos atualmente no YouTube, Xuxa faz publicidade do pirulito “Chupa chups”. Contracenando com a paquita Andrezza Cruz, a apresentadora diz: “eu sinto uma falta quando não é você que está segurando o pirulitão…você sabe por que, né? Essa boquinha que Deus te deu…deixa eu ver você chupando de verdade? Abre aí e chupa…” Que saudades da Minie…
Menores quando se apresentavam na TV, as paquitas também se mostravam despidas nas páginas da Playboy ao atingir a maioridade. Casos de Andrea Sorvetão, Letícia Spiller, Juliana Baroni, Ana Paula Almeida (a Pituxita), Bárbara Borges e Priscilla Couto. As tiragens eram altíssimas. Na capa, sempre a qualificação de ex-paquitas, aquelas que faziam a alegria matinal brincando com a inocência das filhas e a imaginação dos papais que compravam a revista. Ainda bem que hoje temos o influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, para denunciar os abusos da adultização na internet e proteger nossas crianças.
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