Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição: Scriptum
Na primeira semana de outubro a economia brasileira teve impactos externos importantes. O que ganhou maior destaque foi o aumento do dólar à taxa de 1,71% num único dia, o que o trouxe a cotação para R$ 5,15, no dia 3. Em 27 de julho estava em R$ 4,72.
O movimento mais recente ocorreu porque nos EUA permanece a ameaça de aumento da sua taxa básica de juros, o que também já tem levado a um acréscimo dos juros dos títulos do Tesouro daquele país, atraindo investidores internos e também os que estão noutros países, inclusive no Brasil. Lá, o mercado de trabalho tem mostrado resiliência quanto ao impacto da política monetária, com o que se espera dela mais apertos via aumento da taxa básica de juros.
Aqui, esse aumento dos juros nos EUA fez crescer a demanda de dólares com destino àquele país, o que levou à elevação da taxa cambial. Há também a perspectiva de aumento dos juros básicos em outros países, como na Europa Ocidental, o que também contribui para configurar um cenário externo desfavorável ao Brasil.
Se a taxa de câmbio continuar tensionada, isso poderá ter efeitos inflacionários e essa perspectiva também levantou a hipótese de que o nosso Banco Central poderá antecipar o fim do seu ciclo de reduções da taxa básica de juros, a Selic. Ela vem sendo reduzida em 0,5% a cada reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária. Já há quem preveja que na próxima reunião poderá ser baixada queda à metade.
Uma renovada desconfiança no quadro fiscal interno também teve impacto nesse processo, pois a promessa do arcabouço fiscal de um déficit primário zero em 2024 se enfraqueceu. Uma das dificuldades nesse caminho é que será um ano eleitoral e quem está no governo sofre a pressão de suas bases para aumentos de gastos. Esse déficit zero depende muito de um aumento da arrecadação federal, mas já estamos em outubro e medidas que auxiliem nessa direção não estão avançando.
As bolsas de valores internacionais também têm sido afetadas por esse quadro de uma política monetária restritiva, o que aumenta a atratividade das aplicações em renda fixa ao levar a maiores juros e prejudica o desempenho das empresas e suas ações.
Nesse contexto, a renda fixa se apresenta como um porto mais seguro que o da renda variável, inclusive porque as previsões de crescimento do PIB no próximo ano estão perto de 1,5%, ou seja, a metade do aumento esperado para este ano, cerca de 3%.
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