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{ ARTIGO }

As ‘porradas’ e o técnico argentino

O que dizer de uma época na qual a pacificação está nas mãos de líderes como Benjamin Netanyahu e Vladimir Putin, orientados por Donald Trump?, escreve Rubens Figueiredo

 

Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

 

Edição Scriptum

 

Março de 2025. Situação complicada nas eliminatórias para a Copa de 2026 de futebol. A seleção brasileira iria enfrentar a Argentina, nossa rival histórica e atual campeã do mundo, em Buenos Aires. A empreitada, por si só, já não era daquelas de promover um sono tranquilo. Então, o jogador Raphinha, experiente astro do Barcelona, um dos clubes de maior visibilidade do planeta, teve a brilhante ideia de provocar os argentinos. Instado pelo “estrategista” Romário em um desses indefectíveis podcasts, disse: “Porrada neles. Sem dúvida. Porrada neles. No campo e fora do campo, se tiver que ser”. Resultado: Argentina 4 x 1 Brasil, com direito a “olé” e tudo.

René Descartes, pai do racionalismo moderno, escreveu uma frase no Discurso do Método que é genial. A ideia do filósofo é a seguinte: “o bom senso deve ser a propriedade mais bem distribuída entre os seres humanos, pois cada um pensa estar tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de contentar em qualquer outra qualidade não costumam desejar tê-lo em maior quantidade do que já têm”. Cada um de nós representaria um poço de equilíbrio, sensatez e sabedoria.

Mas “de perto ninguém é normal”, pontificou Caetano Veloso. Raphinha não está só. O bom senso parece estar fora de moda. O que dizer de uma época na qual a pacificação está nas mãos de líderes como Benjamin Netanyahu e Vladimir Putin, devidamente orientados por Donald Trump? Ou na qual se cogita a anexação do Canadá aos Estados Unidos? E soa natural a explosão de uma guerra comercial para criar alguns “probleminhas” e desestabilizar a economia internacional?

Voltando ao futebol. O técnico da seleção argentina chama-se Lionel Scaloni. Um vencedor. Ganhou a Copa do Mundo FIFA 2022, a Copa América 2021 e a Copa América 2024.  Além de vencedor, um gentleman. Deu uma aula de liderança e mostrou-se moralmente superior nas entrevistas que se seguiram ao massacre do Monumental de Nuñez. Nunca a seleção canarinho tinha perdido tão feio para os tripudiados “hermanos”. Raphinha bradou “porrada neles!”. Já Scaloni…

Os jornalistas argentinos queriam sangue e vingança. “Como se atrevem a ameaçar dar porrada nos nossos “pibes” aqui em casa?”, era a pergunta da nação depois de uma performance épica!  Questionado sobre o resultado e o desempenho lastimável da seleção brasileira, Scaloni disse, com a maior elegância e sinceridade: “O Brasil vai ser Brasil sempre, sempre. Eu sou fã do futebol brasileiro e da seleção. É um momento de dificuldade que seguramente passará. O Brasil tem uma cultura futebolística extraordinária. Como a Argentina tem história, o Brasil tem mais história ainda, não é? Cinco vezes campeão mundial. Isso diz tudo. Eles voltarão, espero que não seja contra a Argentina. Eles voltarão, se é que foram. Aliás não foram, estão disputando”.

As palavras de Scaloni foram de uma sensibilidade tão grande que trouxeram alguma dignidade a uma derrota que nos fez flertar com a humilhação total.

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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