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Breve análise das fases cíclicas no Brasil nos últimos 40 anos

Para os economistas Paulo Galvão Júnior e Luiz Alberto Machado, a compreensão dos ciclos econômicos é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas

Paulo Galvão Júnioreconomista e Luiz Alberto Machado, economista e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

Atualmente, é preciso pensar sobre os rumos do Brasil, a décima maior economia do mundo. Este artigo analisa os ciclos econômicos do Brasil entre os anos de 1985 e 2024, com base na tipologia clássica das fases de recessão, depressão, recuperação e prosperidade. A partir de dados históricos do Produto Interno Bruto (PIB), são identificados os períodos de contração e expansão econômica, relacionando-os com eventos políticos, reformas estruturais e choques externos.

O presente artigo utiliza abordagem descritiva e analítica, com base em fontes secundárias, e apresenta um panorama quantitativo das taxas de crescimento anual do PIB brasileiro. Os resultados indicam uma economia marcada por volatilidade, mas também por resiliência e capacidade de recuperação.

A economia brasileira, ao longo das últimas quatro décadas, tem sido marcada por intensos ciclos de crescimento e retração. Esses ciclos refletem não apenas a dinâmica interna do País, como políticas econômicas, crises institucionais e reformas estruturais, mas também fatores externos, como crises financeiras globais e oscilações nos preços das commodities. A compreensão dessas fases cíclicas é essencial para o planejamento econômico e a formulação de políticas públicas que visem à estabilidade e ao crescimento econômico sustentável.

A partir da observação das taxas de crescimento anual do PIB, busca-se identificar os períodos correspondentes a cada estágio e discutir suas causas e consequências. A tabela a seguir apresenta a taxa de crescimento anual do PIB brasileiro no período analisado, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

A média das taxas de crescimento anual do PIB brasileiro entre 1985 e 2024 foi de 2,43%, de acordo com o IBGE. Esse valor reflete um padrão de crescimento lento, com alternância entre períodos de prosperidade (como 1985, 1986 e 2010) e recessões (como 1988, 1990, 1992, 2009, 2015, 2016 e 2020). A média também evidencia a volatilidade da economia brasileira, marcada por choques internos e externos, mas com capacidade de recuperação ao longo das décadas.

A próxima tabela agrupa os anos por onze faixas de crescimento do PIB brasileiro, permitindo uma leitura mais granular do desempenho econômico nos últimos 40 anos.

 

Ao longo dos últimos 40 anos, o Brasil não apresentou episódios de depressão econômica, uma vez que não se verificaram três anos consecutivos de recessão nas atividades produtivas das cinco regiões do País. Essa ausência de recessões prolongadas impede a caracterização técnica de uma depressão segundo os critérios econômicos clássicos.

O Brasil é um país emergente e enfrentou diversos episódios críticos em sua trajetória econômica, incluindo a crise da dívida externa nos anos 1980, que resultou do excessivo endividamento externo durante a ditadura militar (1964-1985) e levou à hiperinflação até 1993.

A chamada “doença holandesa”, especialmente perceptível após o boom das exportações de commodities, que provocou valorização cambial e desindustrialização.

A crise financeira global de 2008, cujos efeitos chegaram ao Brasil por meio da retração do comércio internacional e da queda nos investimentos externos diretos, exigindo medidas anticíclicas para mitigar os impactos socioeconômicos.

A pandemia da Covid-19, que gerou um choque sem precedentes na atividade econômica no ano de 2020, com forte retração do PIB, aumento do desemprego e necessidade de amplas políticas de apoio fiscal e monetário.

Consideramos como prosperidade econômica os períodos em que o crescimento do PIB supera 7% ao ano. Com base nesse critério, identificamos apenas três anos com tal desempenho econômico, de forma não consecutiva: 1985, 1986 e 2010.

As fases de prosperidade econômica coincidem com momentos de expansão do crédito, estabilidade monetária e boom das commodities. Com crescimento econômico de 7,5% no ano de 2010, o Brasil ultrapassou o Reino Unido e tornou-se a sexta maior economia do mundo em 2011.

Essa distribuição mostra que o Brasil passou mais tempo em faixas intermediárias, com poucos anos de crescimento muito forte e vários momentos de retração. Isso reforça a importância de políticas econômicas que sustentem o crescimento e mitiguem os ciclos recessivos.

A predominância de anos em faixas de crescimento moderado e sólido (2,1% a 4%), num total de 12 anos, indica uma tendência de crescimento moderado, com baixa frequência de ciclos de euforia.

Os anos de recessão representam cerca de 17,5% do período analisado, reforçando a necessidade de políticas anticíclicas eficazes. A escassez de anos com crescimento excepcional evidencia os desafios estruturais da economia brasileira.

O crescimento econômico brasileiro nas últimas quatro décadas foi lento por uma série de obstáculos estruturais. Os cinco principais fatores que explicam esse desempenho econômico são:

Desindustrialização acelerada – Em 1985, a indústria representava 48% do PIB brasileiro; em 2024, caiu para 24,7%, segundo a CNI. Essa forte retração reflete perda de competitividade, ausência de políticas industriais consistentes e substituição por produtos importados.

Baixa produtividade do trabalho – O crescimento da produtividade foi lento, prejudicado por: educação deficiente, baixo investimento em tecnologia e pouca qualificação da mão de obra.

Armadilha da renda média – O Brasil não conseguiu superar a armadilha de renda média por falta de: reformas estruturais, investimentos em inovação tecnológica e infraestrutura logística e estabilidade institucional e segurança jurídica.

Elevada carga tributária – A carga tributária subiu de cerca de 25% do PIB brasileiro em 1985 para 33,3% em 2024. O sistema tributário é complexo e regressivo, penalizando a produção e o consumo, sem oferecer retorno proporcional em serviços públicos.

Ausência de um projeto nacional de desenvolvimento sustentável – O País careceu de uma estratégia integrada que equilibrasse crescimento econômico com preservação ambiental e inclusão social. Falta de planejamento de longo prazo, políticas públicas fragmentadas e descontinuidade administrativa dificultaram avanços sustentáveis. Isso comprometeu a competitividade internacional, a atração de investimentos verdes e a qualidade de vida da população brasileira.

Concluindo, a análise dos ciclos econômicos no Brasil entre 1985 e 2024 revela uma trajetória marcada por volatilidade, mas também por resiliência. A média de crescimento anual de 2,43% indica um desempenho lento, com períodos de forte expansão compensando os anos de retração. A compreensão desses ciclos é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas que promovam estabilidade macroeconômica, crescimento sustentável e inclusão social.

A classificação dos ciclos em recessão, depressão, recuperação e prosperidade, aliada à análise por faixas de crescimento do PIB, permite uma leitura mais precisa da dinâmica econômica, contribuindo para o debate acadêmico e para o planejamento estratégico de longo prazo.

 

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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