Luiz Alberto Machado, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Em 2001, Jim O’Neill, economista-chefe do Goldman Sachs, utilizou o acrônimo BRIC num estudo intitulado Building Better Global Economic BRICs para se referir ao grupo de quatro países em desenvolvimento cujo crescimento chamava a atenção dos analistas internacionais. Eram eles Brasil, Rússia, Índia e China.
Nascia, assim, informalmente, um mecanismo de cooperação internacional com o objetivo de fomentar o desenvolvimento socioeconômico dos países-membros. Não havia, então, um estatuto formal nem um fundo próprio. A ideia ganhou consistência em 2006, quando os quatro países incorporaram o conceito à sua política externa.
A grave crise financeira iniciada em 2007/08 no setor hipotecário norte-americano, conhecida como subprime, favoreceu o fortalecimento do grupo, uma vez que seus países-membros não foram tão severamente afetados pela crise que se espalhou pelo mundo inteiro, atingindo mais severamente a economia dos principais países desenvolvidos, como Estados Unidos, Japão e os da da zona do Euro.
Em 2009, os ministros das Relações Exteriores dos quatro países se reuniram para a primeira cúpula oficial, que aconteceu na Rússia, tendo, como foco central, a discussão sobre os impactos da crise financeira global nos países emergentes.
Em 2011, na III Cúpula, a África do Sul foi incorporada ao grupo, que passou a ser chamado de BRICS. Formado na época por países de diferentes continentes com características sociais e econômicas relativamente comuns − amplo território e produto interno bruto considerável com acentuada desigualdade de renda − o BRICS começou a apresentar uma atuação cada vez mais forte na área econômico-financeira, passando a focalizar também temas como segurança alimentar, energia e agricultura.
Em 2014, por ocasião da sexta reunião de cúpula, realizada nos dias 15 e 16 de julho, em Fortaleza, no Ceará, o BRICS criou seu próprio banco. Chamado de Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), com sede em Xangai, o banco tem por objetivo dar apoio financeiro a projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável, públicos ou privados, em países-membros, economias emergentes e nações em desenvolvimento.
Com essa formação, o BRICS representava, em 2023, segundo dados do instituto de pesquisas do Reino Unido Acron Macro Consulting, 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, contra 30,7% do G7, grupo que une os sete países mais desenvolvidos do planeta (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). Além disso, graças principalmente às enormes populações da China e da Índia, o BRICS possuía 41% da população mundial.
Na XV Cúpula, ocorrida em agosto de 2023, em Joanesburgo, na África do Sul, foram admitidos como membros plenos Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.
A partir de 1° de janeiro de 2025, quando o Brasil assume pela quarta vez a presidência rotativa do BRICS, mais nove países passam a fazer parte do grupo: Indonésia, Malásia, Tailândia, Cazaquistão, Uzbequistão, Bielorússia, Bolívia, Cuba e Uganda, cuja inclusão foi definida em outubro de 2024, na XVI Cúpula em Kazan, na Rússia, quando foi criada a nova categoria de parceiros do bloco.
Com o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o governo brasileiro assume a presidência do BRICS tendo, entre seus desafios, o de articular a participação dos novos membros e dar continuidade à construção do sistema de pagamento com moedas locais no comércio entre os países, substituindo o dólar.
Independentemente da categoria dos novos membros, aumenta ainda mais a participação relativa do BRICS no Produto Interno Bruto mundial e, pelo menos em tese, cresce também sua influência na economia e nas relações geopolíticas internacionais.
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