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{ ARTIGO }

Chega de estresse!

Sociólogo Rubens Figueiredo escreve sobre o mundo democrático – e perturbador – da ciclovia do mais emblemático parque de São Paulo, o Ibirapuera

Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

No Parque do Ibirapuera, de livre acesso à população de São Paulo, existe uma ciclovia bem bonita. Ciclovia, está lá na Wikipédia, “é um espaço destinado especificamente para circulação de pessoas utilizando bicicletas”. Mas vivemos em uma democracia (que pressupõe o estabelecimento de regras de convivência, mas isso é outro problema), com uma sociedade tolerante, apaixonada pela diversidade e inclusiva.

Os ciclistas usuários da ciclovia se dividem em normais, anormais (que circulam se filmando pelo celular), paranormais (circenses que não colocam as mãos no guidão ou andam de costas), os atletas (seriam multados por excesso de velocidade na Rodovia dos Bandeirantes), seguranças (sim, andam de bicicleta) e os turistas, que alugam o equipamento no próprio parque e tumultuam a circulação desse conjunto heterogêneo com seu equilíbrio assustado. Também são usuários os pilotos de bicicletas elétricas, que, por algum mistério que a neurociência ainda explicará, acham que estão fazendo exercício aeróbico e “ziguezagueiam” na pista com a paciência de um motoboy do Ifood.

A ciclovia também é frequentada por pedestres e corredores. Existem os pedestres transgressores (“se é proibido, eu faço!”), os contemplativos (que fumam um baseado e caminham pelo trânsito ciclístico admirando a natureza…) e os que, candidamente, cruzam a pista, com a tranquilidade de quem vai da cozinha para a sala no seio do seu próprio lar. Os corredores estão sempre atravessando a via, numa busca frenética pelo o que poderá encontrar do outro lado. Vez ou outra, um pelotão de soldados do Exército passa em marcha acelerada, entoando a plenos pulmões “ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”. É muito agradável.

Também circulam no espaço os veículos motorizados, que podem ser elétricos ou não. Eles se ocupam de transportar funcionários que trabalham na manutenção do parque, além de cocos e refrigerantes vendidos nos quiosques, que se parecem multiplicar por cissiparidade. Funcionários de caminhões de água se esmeram em esguichar o líquido sobre a pista e as pessoas (têm preferência por essas últimas), normalmente nos horários de maior utilização do espaço. Impossível não lembrar dos monociclos, aquelas rodas misteriosas que andam sozinhas com um maluco se equilibrando em cima.

Temos também no parque algo que os aplicativos ainda não fazem: passear com cachorros. De vez em quando o usuário do parque é surpreendido por um desses profissionais conduzindo (na verdade, sendo conduzido por) mais de dez animais, alguns com porte de um pequeno elefante. Quando cruzam a ciclovia é um espetáculo bonito, uma verdadeira festa darwiniana.

Para completar o quadro, patinadores de alta performance, com movimentos laterais amplos e vigorosos, tentam atingir a velocidade de carros da Fórmula 1 e também crianças e pais atônitos, que se equilibram bravamente sobre suas bikes à deriva. E ainda tem os patinetes elétricos, que passaram a ser alugados em pontos estratégicos ao lado do Ibirapuera, normalmente pilotados por crianças entre 12 a 14 anos, cuja diversão é “dirigir” a geringonça olhando e rindo para os coleguinhas que vêm atrás, sem se preocuparem com o que pode estar na sua frente.

Sugiro um relaxante passeio de bicicleta no Parque do Ibirapuera. É o programa ideal contra o estresse da cidade de São Paulo.

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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