Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
É tanta notícia que às vezes não nos damos conta da magnitude da informação. Elon Musk é o homem mais rico do mundo, tendo acumulado, segundo a Forbes, a estratosférica quantia de U$ 241 bilhões. O empresário tem negócios nas áreas de viagens espaciais, satélites de baixa altitude (Starlink, que provê a internet a várias localidades na Amazônia) e carros elétricos (Tesla), entre outros “brinquedinhos”.
A rede X, ex-Twitter, é um deles. Musk achou que o Twitter estava dando espaço demais para os posts de viés esquerdista e resolveu partir para “equilibrar o jogo”. O empresário tem 196,5 milhões de seguidores, odeia Joe Biden e faz campanha aberta para Donald Trump contra a democrata Kamala Harris. Também tem proximidade com lideranças da direita, como o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban.
Ele, que tem 12 filhos, é “hard”. Dissemina a pouco provável ideia de que existiria um racismo contra os brancos e acha – ou diz que acha – que o atual presidente americano está promovendo uma improvável campanha para trazer imigrantes que se tornariam “eleitores de esquerda”. Diz que defende a liberdade de expressão.
Eis que chegamos ao ponto de, no Brasil, um ministro da Suprema Corte proibir o funcionamento do X. O argumento, digamos, filosófico da decisão ampara-se na interpretação de que a rede social oferece espaço para manifestações antidemocráticas, o que ensejou ordem para a derrubada de perfis. A partir daí, o conflito subiu de patamar quando algumas exigências jurídicas não foram acatadas.
Nessa polarização insana que vivemos, um lado pensa de um jeito e outro de maneira diametralmente oposta, fica difícil argumentar. Ou é uma coisa ou é outra, sem nuances. Mas talvez fosse interessante dar uma espiadela na lista de países nos quais o X está proibido e verificarmos se estamos em boa companhia.
A rede social de Musk está banida na Venezuela, uma das ditaduras mais vistosas do planeta, cuja falta de apreço pela democracia dispensa maiores elaborações. Não funciona também em países de tradição democrática pouco exuberantes, como a China e a Rússia. A junta militar que governa Mianmar, que vive em guerra civil, também não permite a atuação do X.
Robustecemos a lista com a presença do exótico Turcomenistão, que vive na Idade Média em termos de uso de redes sociais, e o Irã, onde o fundamentalismo impera e a opinião é totalmente dispensável. E, para fechar com chave de ouro, temos a Coreia do Norte, cujo ditador tem sua maneira peculiar de entender o significado de liberdade. Se o Brasil está fazendo coro aos países citados em nome da democracia, com certeza alguma coisa está errada.
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