Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
No dia 21 de outubro o jornal O Estado de S.Paulo publicou uma interessante matéria intitulada Dólar seria de R$ 5,10 sem ruídos políticos e a desconfiança fiscal. E o subtítulo veio assim: Quase 80% da desvalorização do real ante moeda americana, que fechou na sexta (18/10/24) a R$ 5,69, vêm do cenário doméstico, o que não é usual, dizem especialistas. No dia 22/10/24, a cotação estava mais próxima de R$ 5,70 e no dia 1º/1/24 era de R$ 4,85.
Essa reportagem do jornal foi baseada em estudos realizados pela BRCG Consultoria e pela Tendências Consultoria. A segunda é bem conhecida e nela atuam os prestigiados economistas Maílson da Nóbrega e Gustavo Loyola. O título e o subtítulo citados acima já dão, de forma agregada, pistas das causas do problema apontado. Prosseguiremos examinando alguns detalhes.
É dito que essa taxa de R$ 5,10 seria observada se o Brasil tivesse seguido o “comportamento médio dos demais países emergentes.” O economista Silvio Campos Neto, da Tendências, afirmou “… que entre os fatores que contribuem para o atual nível do real estão: a ofensiva do governo em torno do Banco Central, que gerou incertezas quanto à transição no BC, uma direção mais populista na economia, com tentativas de intervenção em estatais, e a questão fiscal. Acredito que esta última é a mais importante, pois vem contribuindo para o contínuo aumento da dívida pública, o que pode trazer riscos à frente. Pelo lado do populismo, chamou a minha atenção o anúncio de um grande avanço no auxílio-gás, coisa perto de R$ 10 bilhões, para entrar em vigor em 2025, véspera do ano eleitoral presidencial.
Há também pressão de gastos do lado do Congresso, com suas emendas “para lamentares”, e cujo impacto na eleição de prefeitos ficou demonstrado na última eleição municipal, evidenciando novamente a sua inconstitucionalidade, pois ferem o princípio da igualdade consagrado pela nossa Constituição. Por exemplo, os prefeitos incumbentes, ou seja, os que já estão no cargo, têm sua reeleição favorecida pelas emendas que recebem, relativamente a candidatos não incumbentes que estão disputando a eleição fora do cargo. Reportagem da Folha de S.Paulo em 9/10/2024, logo após o primeiro turno das eleições municipais, veio com este título: 98% dos prefeitos mais turbinados com emendas conseguem se reeleger”, revelando também o caráter iníquo das emendas.
A taxa mais alta de câmbio pesa na inflação e é assim um dos ingredientes da política de juros altos do BC, que desestimulam o consumo e os investimentos em empresas produtoras de bens e serviços.
A questão da taxa de câmbio é apenas uma das demais distorções internas que afetam a política econômica, demonstrando que o País não tem instituições capazes de conduzi-lo a um crescimento econômico mais forte e sustentável, conforme ressaltado por economistas premiados recentemente com o Nobel de Economia.
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