Luiz Alberto Machado, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Em 21 de novembro de 2023, apenas dois dias depois das eleições presidenciais e antes, portanto, da posse de Javier Milei ocorrida em 10 de dezembro, publiquei neste mesmo Espaço Democrático o artigo A aposta dos argentinos, tomando por base algumas análises e comparações surgidas tão logo foram conhecidos os resultados das eleições.
Voltei a abordar o assunto na reunião semanal do Espaço Democrático, alertando para o fato de que, ao contrário do que afirmava a maior parte das matérias sobre o presidente eleito da Argentina, e apesar de seu jeito histriônico, Javier Milei era mais preparado do que muitos imaginavam. Ousei afirmar também que acreditava que ele poderia fazer um bom governo, levando a uma melhora considerável da situação do país vizinho.
Repeti a mesma afirmação em diversas entrevistas concedidas na época a diferentes redes de rádio e televisão e fui, aberta ou veladamente, bastante criticado por essa posição.
Passado mais de um ano da posse de Milei, o que se constata é que ele vem conseguindo resultados acima das expectativas, embora haja um longo caminho a percorrer para que a Argentina supere os obstáculos ainda existentes.
Um dos fatores favoráveis a Milei, desde o princípio, foi sua sinceridade, jogando claro com seus compatriotas sobre a gravidade do quadro econômico argentino e sobre os momentos difíceis que seriam enfrentados nos meses iniciais de seu governo, até que os primeiros resultados começassem a aparecer.
Isso foi fundamental para que parte da sociedade, a princípio cética, passasse a dar crédito ao governo, à medida que percebia mudanças acentuadas na comparação com os governos de Alberto Fernández e de Cristina Kirchner.
Depois de começar desvalorizando substancialmente a moeda nacional para eliminar o câmbio artificial, de cortar ministérios, de demitir 31 mil servidores, de extinguir renúncias fiscais e de reduzir em mais de 30% as despesas públicas, Milei passou a pôr em prática algumas das ideias divulgadas durante a campanha, sem contudo partir para a dolarização como previsto no livro Dolarización: una solución para la Argentina (Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Claridad, 2023), escrito por Nicolás Cachanosky e Emilio Ocampo, apontado na época como principal favorito para ocupar o Ministério da Economia.
Com o apoio do Fundo Monetário Internacional, que aceitou a renegociação da dívida e despejou dinheiro novo, a política econômica começa a produzir resultados e sinalizar para o início da virada.
Tentando negociar um novo empréstimo do FMI, para o que conta com o apoio do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, a política econômica de Milei tem recebido elogios do Fundo por estar conseguindo colocar ordem no caos que caracterizou o país ao longo deste século.
Julie Kozack, porta-voz do FMI, afirmou que “durante o último ano as autoridades argentinas vêm implementando seu programa de estabilização econômica e têm conseguido resultados impressionantes, que incluem uma redução considerável da inflação, superávit fiscal e uma melhor cobertura das reservas internacionais”.
A inflação, que atingira 25,5% ao mês na sua posse, caiu para 2,4% em novembro e o dólar paralelo, chamado de “blue” cada vez mais se aproxima do câmbio oficial.
Apesar desses avanços, a previsão é de que a inflação anual feche em 140%, bem abaixo dos 211% registrados em 2023. Evidentemente, segue sendo um número muito alto, mas a redução vem sendo obtida sem congelamentos ou tabelamentos de triste lembrança para nós brasileiros. O FMI prevê para 2025 uma inflação de 45%, o que se deve em grande parte à queda do gasto público primário, que não inclui os juros, de 35,3% em 2023 para 30,2% este ano.
Como reconhecera Milei desde o início de seu governo, o preço social e político é alto. A pobreza extrema alcançou cerca de 50% da população, o consumo caiu, muitas empresas quebraram e o desemprego está elevado, registrando 6,9%, embora tenha caído 0,7% ponto percentual em relação ao trimestre anterior.
Milei entra em seu segundo ano de mandato com um saldo positivo. Mesmo pessoas que não votaram nele reconhecem a importância da estabilidade e estão dispostas a dar um crédito por enxergarem algo diferente do que testemunharam nos últimos anos. Milei começa agora a ser reconhecido no exterior como alguém capaz de reordenar o caos. Esse fortalecimento político interno e externo será essencial para que ele aprofunde o ajuste em 2025, com cortes significativos nos impostos, sem comprometer a saúde das contas públicas.
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