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{ ARTIGO }

Estudante e aprendedor

O economista Roberto Macedo diz que o avanço da educação exige esforço para aprender a aprender

Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

Aprendedor, designando quem está a aprender, não consta do meu dicionário (Houaiss), mas sites de busca mostram o seu uso, ainda que pouco difundido. Aprender nem sempre ocorre com quem estuda. Por exemplo, estudei trigonometria, mas não aprendi nada de útil. Por útil entendo algo de uso intelectual ou também profissional,

Cheguei ao termo ao estudar o modo de ensinar. O tradicional é um em que o professor apresenta determinado assunto, sustentado por um livro texto ou uma bibliografia mais geral, cuja leitura é indicada. Também podem ocorrer exercícios e redação de um texto ligado ao que foi abordado em classe. Ensinamentos são usualmente cobrados em provas. O mestre é o ator principal, e em geral os alunos atuam passivamente.

Percebi que hoje essa forma de ensinar é contestada por outra em que os alunos assumem um forte protagonismo. Um livro de Fadel, Trilling e Bialik (2015), aborda Four-Dimensional Education: The Competencies Learners Need to Succeed (Educação em Quatro Dimensões: As Competências que Aprendedores Precisam para o Sucesso). Note-se o termo learners, que traduzi como aprendedores. Aliás, em inglês esse termo é muito mais difundido, pois nessa língua havia no Google, no tempo em que informava isso, 20 milhões de referências a ele, enquanto que em português só 20 mil.

Fadel esteve no Brasil em 2018 e foi entrevistado para a Federação do Comércio do Estado de São Paulo. A entrevista é muito interessante, o que já vi de mais moderno em termos de educação. Pode ser assistida neste link. Já vi essa entrevista várias vezes, pois são muitas as novidades que apresenta e procuramos adotá-la na Faculdade do Comércio de São Paulo, da qual sou Diretor Acadêmico.

As quatro dimensões do livro citado, às quais acrescentei algumas observações, são: 1) conhecimento, “o que conhecemos e entendemos” nas palavras dos autores, que se divide em tradicional, como matemática, e moderno, como empreendedorismo, cujo ensino é muito realçado por Fadel em sua entrevista. Acrescento que o conhecimento deve ser contextualizado, tratando cada tema no contexto em que os alunos vivenciam e pensando também no empreendedorismo; 2) habilidades, competências, “como usar o que sabemos”, envolvendo criatividade, pensamento crítico e colaboração. Acrescento: inclusive aprendizado em grupos, para maior sociabilização dos estudantes e desenvolvimento de sua comunicação verbal, fundamental no aspecto social e profissional. 3) Comportamento: como nos comportamos e engajamos no mundo. Foco mental, curiosidade, coragem, resiliência e liderança. Acrescento: com participação ativa no ensino. 4) o chamado meta-aprendizado, “como nós refletimos e nos adaptamos às mudanças”. Acrescento que hoje essas mudanças são muito rápidas, como as que ocorrem nas tecnologias de informação e comunicação. Note-se o avanço do comércio eletrônico, das redes sociais e da Inteligência Artificial. E, dado todo esse contexto, uma avaliação do ensino deve incluir tanto o quê e como o professor ensina, e o quê e como o aluno aprende.

Ao lidar com os alunos, devemos evitar termos como meta-aprendizado e metacognição. Eles terão dificuldades para entendê-los, e é provável que esqueçam logo em seguida. Aliás, eu já tinha uma visão desse processo desde 1998, quando escrevi um livro sobre carreiras. Citando uma referência internacional, esse livro aponta como o profissional de maior probabilidade de sucesso o chamado “especialista generalizante ou eclético”, aquele que é especialista em alguma ocupação, mas com a capacidade de aprender outras, por interesse ou por necessidade, o que se desenvolve com o aprender a aprender. Ainda sobre o aprender a aprender, Michele Uema, ex-aluna da FAAP, que vem atuando em grandes empresas, também ponderou que “um dos objetivos que elas mais buscam hoje é o de aprender, aprender a desaprender e aprender de novo e quem faz isso rápido, está à frente dos demais.”

Como disse Fadel na entrevista, “Este será o desafio: sair de uma educação bem especializada e limitada para uma educação ampla e profunda, simultaneamente”. Ou seja, procure ser um aprendedor, e dos bons!

 

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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