Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição: Scriptum
Nunca havia ouvido falar de exportação de cachaça, achando que a produção e consumo dessa bebida fossem um monopólio nacional. Por isso chamou-me a atenção essa manchete de matéria da Agência Brasil publicada no site do Globo Rural no dia 11 deste mês, a partir de dados até novembro, disponibilizados pelo Comex Stat, o sistema de dados de comércio exterior do governo federal, e compilados pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), cuja existência também ignorava.
Vejamos alguns números da reportagem. Em 2022, a exportação foi estimada em US$ 18,6 milhões, superando o valor de 2019 em aproximadamente US$ 4 milhões, com o que esse total passou a um nível superior ao que havia atingido antes da pandemia. Esse valor de US$ 18,6 milhões correspondeu a um volume de 8,6 milhões de litros exportados, o que significa um preço um pouco superior a US$ 2 ou aproximadamente R$ 10 por litro, mas a matéria não esclarece o que é exportado em garrafas e o que segue em recipientes maiores.
Segundo Carlos Lima, diretor-executivo do Ibrac, as boas notícias do crescimento recente das exportações são resultado da superação do impacto da covid-19, em particular com a volta efetiva do funcionamento de bares e restaurantes. Ele também afirmou que ações de promoção da cachaça como um produto para exportação também contribuíram. O Ibrac realizou com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), do governo federal, um programa de promoção da exportação de cachaça, inclusive com proteção da denominação da cachaça como uma marca. Micros e pequenas empresas também têm sido inseridas no mercado internacional com a ajuda desse programa.
A produção de cachaça é, de fato, um monopólio do Brasil. Nesse contexto, surpreendeu-me também a informação de que atualmente a cachaça é exportada para 72 países. Os principais importadores são Estados Unidos, Alemanha, Portugal, Itália, França e Paraguai. Segundo a matéria, “Portugal mais que dobrou nos valores de cachaça importada do Brasil e a Itália teve um aumento de 180% das cifras”. Aumentos como esses costumam acontecer quando se parte de volumes pequenos. No caso de Portugal a emigração de brasileiros para aquele país vem crescendo bastante e pode ter influenciado esse crescimento. Esses brasileiros talvez estejam tomando mais caipirinhas para matar a saudade.
Ao procurar mais informações sobre exportação de cachaça encontrei um grupo de nome Serpa, que se diz ser “… um conglomerado de empresas brasileiras, americanas e chinesas que oferecem suporte 360º para concretização, manutenção e expansão de negócios internacionais entre Brasil, Estados Unidos e China”. Ele fornece informações sobre exportação de cachaça e dispõe-se a dar consultoria a interessados.
Como foi dito, o volume exportado ainda é relativamente pequeno, mas vem crescendo bem, e por trás disso há um esforço organizado do setor privado, compartilhado com o governo. Esse é um exemplo que deveria ser seguido por outros setores.
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