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{ ARTIGO }

Globalização, futebol e competitividade

Economista Luiz Alberto Machado escreve: a globalização está alterando a correlação de forças entre seleções tradicionais e emergentes?

Luiz Alberto Machado, economista e colaborador do Espaço Democrático

 

A globalização, uma das características mais marcantes da realidade contemporânea, pode ser percebida diariamente nos mais variados campos de atividade. Frequentemente nos defrontamos com referências a aspectos econômicos da globalização, envolvendo questões comerciais, financeiras e das relações internacionais em geral. O fenômeno, no entanto, é muito mais amplo e perpassa por atividades tão díspares como saúde, educação, comunicações, cultura, turismo, lazer, ciência, tecnologia e esporte.

Neste último setor de atividade, a globalização pode ser percebida de diversas formas: pelo interesse despertado por modalidades não praticadas até então em determinados países, atestado por elevadíssimos níveis de audiência às transmissões televisivas; pelos polpudos investimentos em patrocínios quer de eventos, quer de instituições ou clubes; pelo intercâmbio cada vez maior de atletas e técnicos, com significativas transferências de recursos financeiros entre países e continentes.

Há, também, lamentavelmente, o lado obscuro da globalização no esporte, representado, entre outras coisas, por ações de lavagem de dinheiro, por seguidos casos de corrupção de dirigentes e pela busca por parte de atletas de resultados a qualquer custo, por meio de sofisticadas formas de doping.

Como não poderia deixar de ser, o futebol, como modalidade mais praticada no mundo, exerce uma atração especial¹, o que é evidenciado pelo interesse despertado por sua principal competição, a Copa do Mundo, cuja vigésima segunda edição, a ser realizada no Catar, terá início dia 20 de novembro.

Em suas edições anteriores, embora tenham participado seleções de 80 países, apenas oito conseguiram conquistar o almejado título: Brasil (cinco vezes), Alemanha e Itália (quatro vezes), Argentina, França e Uruguai (duas vezes), Espanha e Inglaterra (uma vez).

Disputada pela sétima e última vez por 32 seleções (a próxima edição terá 48 seleções), a Copa do Catar terá algumas características especiais, a começar pela época em que será realizada por causa das altíssimas temperaturas verificadas nos meses de junho e julho, quando ocorre normalmente a competição.

Além de ser disputada pela primeira vez no Oriente Médio, será também a primeira vez na história em que um Mundial terá jogos em estádios próximos uns dos outros, uma vez que a distância máxima separando um estádio do outro é de duas horas, o que permite que os torcedores que forem ao Catar tenham chance de assistir a um número maior de partidas em comparação com outras edições.

Outro fator que tem despertado a atenção de torcedores e especialistas diz respeito à competitividade. Como é natural em competições dessa natureza, há algumas seleções favoritas, outras consideradas como segundas forças, outras ainda que “podem surpreender”, e outras que não tem nenhuma chance, para as quais chegar à fase final da Copa já significou muito.

Para muitos analistas, a globalização está alterando essa situação, não apenas pela maior quantidade de partidas entre clubes e seleções de diferentes regiões, mas, sobretudo pelo intenso intercâmbio de jogadores, evidenciado pelo fato de que equipes de praticamente todos os países tem em seus elencos diversos estrangeiros. Tal fator tem permitido que seleções de menor expressão historicamente, em especial da África e da Ásia, passem a enfrentar com relativa igualdade as poderosas seleções europeias e sul-americanas. Até agora, embora ofereçam maior resistência, as seleções desses países não conseguiram chegar à final de uma Copa do Mundo². Ocorrerá no Catar?

Por fim, há grande expectativa quanto ao desempenho de grandes estrelas do futebol mundial, algumas das quais terão a última possibilidade de conquistar uma Copa do Mundo, casos do argentino Lionel Messi e do português Cristiano Ronaldo (Neymar, pela idade, ainda poderá participar de pelo menos mais uma edição).

Já pelo lado das decepções, a Copa do Catar não contará com a participação da tradicionalíssima seleção italiana, a Squadra Azzurra, nem de brilhantes estrelas do futebol da atualidade como o egípcio Salah e o norueguês Haaland, cujas seleções não se classificaram, e outras que se lesionaram e desfalcarão suas seleções, como é o caso dos franceses Kanté e Pogba, integrantes da equipe que conquistou o Mundial de 2018.

Está na hora de os brasileiros virarem a chavinha, deixando de lado a extrema polarização que cercou as eleições para a presidência da República e unindo-se numa enorme corrente na torcida pelo inédito hexacampeonato.

 

¹Recomendo a leitura do livro Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização, de Franklin Foer (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005).

² Nos Jogos Olímpicos, em que há restrições para a convocação de jogadores e não há obrigatoriedade para que os clubes cedam seus jogadores para as seleções nacionais, o equilíbrio é maior e os resultados são mais imprevisíveis. Por conta disso, a medalha de ouro foi conquistada pela Nigéria, em 1996, e por Camarões, em 2000.

 

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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