Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição: Scriptum
Esse incentivo tomou muito espaço no noticiário dos últimos dias. Fui examinar o assunto e encontrei números que justificam o título acima. Segundo a edição da Folha de S.Paulo de 6 de junho, em reportagem intitulada Diesel vai subir R$ 0,11 por litro a fim de compensar incentivo para veículos, o programa está orçado em R$ 1,5 bilhão, o que, no contexto da economia como um todo, é algo muito pequeno. Além de automóveis, o programa vai também abranger ônibus e caminhões, o que ampliará a pulverização desse pequeno valor.
Por que pequeno? Em porcentagem do PIB (Produto Interno Bruto) o valor citado significaria apenas 0,00015%, mas o PIB é enorme e o significado disso pode não ser transparente para leitores pouco familiarizados com cálculos desse tipo. Todavia, encontrei dados do setor de veículos que mostram a pequenez desse valor mesmo no âmbito desse setor.
Esses dados, publicados numa tabela na mesma reportagem citada, mostram as empresas mais beneficiadas com reduções do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e reduções também do Imposto sobre Importações (por exemplo, de autopeças). A lista cobre o ano de 2021 e é composta pelas 30 empresas que receberam os maiores benefícios, É encabeçada pela Petrobras, que foi beneficiada com a enorme cifra de R$ 28,3 bilhões.
Quase todas as empresas do setor de veículos estão na lista. São apresentadas a seguir, com o valor de seu benefício em bilhões de reais entre parênteses: Fiat Chrysler (R$ 4,58 bilhões), General Motors (R$ 2,40 bilhões), Volkswagen (R$ 1,86 bilhão), Mercedes Benz (R$ 1,55 bilhão), Scania (R$ 1,41 bilhão), Renault (R$ 1,28 bilhão) e Volvo (R$ 1,25 bilhão). Essa lista totaliza R$ 14,33 bilhões, perto de 10 vezes o valor total do programa de incentivo para veículos, já citado (R$ 1,5 bilhão).
Também na mesma reportagem é informado que no caso dos automóveis cobertos pelo programa, os valores dos incentivos variarão entre 1,6% e 11,6% do valor dos veículos, o que significa um desconto entre R$ 2 mil e R$ 8 mil. E mais: os recursos serão distribuídos da seguinte forma: R$ 500 milhões para carros, R$ 300 milhões para ônibus e R$ 700 milhões para caminhões. Também se fala que o programa vai durar quatro meses, mas com essa escassez de recursos, esse prazo provavelmente será menos. Portanto, se algum leitor pretende recorrer ao programa, sugiro que vá logo a uma concessionária em busca do benefício.
Quando escrevia este artigo entendia que era o único analista a apontar o reduzido tamanho do programa. Mas, conforme a edição de 8 de junho de O Estado de S.Paulo, o analista Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e doutor em Economia, também percebeu isso e escreveu que o “valor do pacote para carros é dinheiro de pinga”.
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