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{ ARTIGO }

Nobel de Economia contempla pesquisas sobre inovação e crescimento

Economista Luiz Alberto Machado fala sobre as ideias que deram o prêmio a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt

Luiz Alberto Machado, economista e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

Anunciado pela Academia Real das Ciências da Suécia na segunda-feira, 13 de outubro, o Prêmio Nobel de Economia de 2025 foi concedido a Joel MokyrPhilippe Aghion e Peter Howitt por seus estudos sobre crescimento econômico impulsionado pela inovação.

Joel Mokir, nascido na Holanda, é doutor pela Universidade de Yale e professor na  Northwestern University, em Illinois, nos Estados Unidos. Philippe Aghion, francês, é doutor pela Harvard University e professor na London School of Economics and Political Science, no Reino Unido. Peter Howitt, por sua vez, é canadense, com doutorado pela Northwestern University e professor na Brown University, nos Estados Unidos.

A particularidade é que metade do prêmio de 11 milhões de coroas suecas ficará com Joel Mokyr, por ter contribuído para identificar as condições necessárias para o crescimento econômico sustentado, ou, em outras palavras, quando a economia cresce de maneira contínua e estável, sem interrupções caracterizadas por longos períodos de estagnação ou recessão. A outra metade será dividida por Philippe Aghion e Peter Howitt em razão da teoria do crescimento baseada na destruição criativa, processo no qual produtos ou serviços novos e melhores substituem os anteriores e estimulam novos avanços.

O trabalho de Mokyr possui acentuado caráter histórico, evidenciando que o avanço sustentável depende não só do conhecimento prático, mas também da compreensão científica para o porquê. Antes da Revolução Industrial no século 18, essa compreensão científica muitas vezes inexistia, o que dificultava o surgimento de novas descobertas e invenções. Nessa época, as inovações não geravam crescimento econômico sustentável. Na Suécia e no Reino Unido, entre os anos 1300 e 1700, a economia praticamente não crescia, apesar de avanços significativos como o arado pesado, os moinhos e a imprensa. A partir do século 19, os estudos de Mokyr constataram que o crescimento anual em torno de 2% se tornou o “novo normal”, dobrando a produtividade dos trabalhadores e elevando significativamente a qualidade de vida.

Já as pesquisas de Aghion e Howiit desenvolveram um modelo matemático da chamada “destruição criativa”, conceito criado por Joseph Schumpeter, um dos mais importantes economistas do século 20, no livro Capitalismo, socialismo e democracia, escrito em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial. Para eles, a inovação é criativa por trazer algo novo, mas também destrutiva, pois torna obsoletas as tecnologias e empresas que não acompanham o avanço.

Além da óbvia associação do Nobel deste ano a Joseph Schumpeter, responsável pela consagração da expressão destruição criativa, é mais do que justa a associação também ao nome de Celso Furtado, por seus inovadores estudos sobre desenvolvimento − em particular sobre o subdesenvolvimento − e, especialmente por ter destacado, no livro Criatividade e dependência na civilização industrial, publicado em 1978, o papel relevante desempenhado pela criatividade e pela cultura como fatores impulsionadores do processo de desenvolvimento.

Cláudia Leitão, que foi a primeira ocupante da Secretaria de Economia Criativa − e que voltou neste ano a ocupar o mesmo cargo − utilizou como epígrafe do Plano da Secretaria de Economia Criativa, um trecho desse livro de Celso Furtado:

Quaisquer que sejam as antinomias que se apresentem entre as visões da história que emergem em uma sociedade, o processo de mudança social que chamamos desenvolvimento adquire certa nitidez quando o relacionamos com a ideia de criatividade.

No livro Economia + Criatividade = Economia Criativa, cuja segunda edição revista, ampliada e atualizada foi publicada em 2024 pelo Espaço Democrático, os autores completaram essa epígrafe, acrescentando mais um trecho extraído da mesma obra de Celso Furtado, no qual ele afirma que…

…a gama maravilhosa de culturas que já surgiram sobre a Terra testemunha o fabuloso potencial de inventividade do homem. Se algo sabemos do processo de criatividade cultural, é exatamente que as potencialidades do homem são insondáveis: em níveis de acumulação que hoje nos parecem extremamente baixos produziram-se civilizações que, em muitos aspectos, não foram superadas.

Encerro o artigo sobre o Nobel de Economia de 2025 com duas observações que me parecem oportunas:

1ª. Durante muito tempo a teoria econômica não fez distinção entre os conceitos de crescimento e de desenvolvimento, chegando inclusive a utilizá-los acompanhados do qualificativo econômico. Porém, verifica-se, hoje em dia, ampla predominância entre os teóricos do desenvolvimento daqueles que se posicionam a favor de uma clara diferenciação entre os dois conceitos. Essa posição foi reforçada pela existência de diversos países que atravessaram períodos de elevadas taxas de crescimento sem que suas respectivas populações − ou pelo menos a maior parte delas − tivessem a oportunidade de se beneficiar dos frutos desse crescimento. Os países árabes, nos anos que se seguiram às crises do petróleo de 1973 e 1979, e o Brasil da época do chamado “milagre econômico” são bons exemplos disso.

Atualmente, portanto, é possível constatar que a diferença fundamental apontada por esses teóricos seria que o crescimento corresponde a uma variação única e exclusivamente quantitativa dos indicadores econômicos. Já o desenvolvimento implica, além dessa, em variações de ordem qualitativa, com a decorrente melhora do nível de vida da população e um aumento contínuo do grau de participação do indivíduo na sociedade.

 

 

No limite, pode-se até dizer que não há um conceito de desenvolvimento “econômico” e sim um conceito mais amplo de desenvolvimento, definido a partir de um conjunto de transformações, tanto no plano político como no econômico, e no social. Nesse contexto, para que haja desenvolvimento, duas condições devem, necessariamente, ser atendidas: (i) o crescimento da renda per capita em condições satisfatórias de atividade e ocupação; (ii) a distribuição dos frutos desse crescimento entre os diversos segmentos da sociedade.

2ª. Apesar da popularidade atingida pelo conceito de inovação, é justo que se chame a atenção para o fato de que ela pressupõe a existência prévia da criatividade, fato reconhecido por Schumpeter e por outros estudiosos do tema, entre os quais o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi. Em Gestão qualificadaa conexão entre felicidade e negócio, de 2004, ele observa:

Na verdade, a criatividade é uma fonte interminável de inovação – sempre surge uma maneira melhor de fazer algo tradicional. É igualmente um processo muito democrático: não é preciso ser abastado, rico, bem relacionado ou nem mesmo bem educado para destacar-se com base numa boa ideia. Seja com uma franquia de pizza ou em uma companhia de biotecnologia, o potencial de crescimento está sempre presente. Construir uma visão de excelência é uma possibilidade sempre aberta a qualquer um que pretenda fazer bons negócios.

Bill Shephard, que por muitos anos foi diretor da Creative Education Foundation, uma das mais reconhecidas instituições especializadas em solução criativa de problemas, sintetiza bem essa relação, afirmando que “existe criatividade sem inovação, mas não existe inovação sem criatividade”.

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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