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Notícias da terrinha

A leitura comentada dos jornais portugueses pelo jurista e escritor José Paulo Cavalcanti Filho: da eutanásia aos salários

José Paulo Cavalcanti Filho

Edição: Scriptum

 

No Brasil, e em Portugal, a língua é (quase) a mesma. Mas são povos, e culturas, muitos diferentes. Basta ver as notícias que circulam, agora, nos jornais de lá.

AGRICULTURA. Em áreas secas, destaque para “caçadores de neblina”. Capturando nas madrugadas, em redes, aquela garoazinha. Para aprisionar água que, depois, vai alimentar plantas. A notícia fala de experiência em Oliveira do Conde (Viseu). As imagens são impressionantes. Num cenário desértico, de pedra e areia, erguem-se 3 “torres verdes”. Seria bom que alguém do novo governo, de Raquel e Priscila, desse uma passadinha no local para ver.

CONSTITUIÇÃO. O PS, partido do primeiro-ministro António Costa, pretende mudar a Constituição para incluir, nela, o “direito à alimentação”. Como fazer? Ora lá, pá, isso a gente vê depois. Como sempre.

COVID. Em Portugal, não há ninguém preocupado. Oscar Felgueiras, do grupo de peritos do governo, inclusive declarou “Para já não há indicação de uma variante que possa causar impacto hospitalar”. Enquanto, por aqui, há já prenúncios de paranoia no ar. Melhor esperar em paz, amigo leitor.

EUTANÁSIA. Aprovado, no parlamento, projeto de lei permitindo a eutanásia ‒ definida, então, como “morte assistida”. Segundo a lei, tudo terá que passar por uma Comissão de Avaliação dos Procedimentos Clínicos de Morte Medicamente Assistida (CVA). Agora, o presidente da República, Marcelo (Nuno Duarte) Rebelo de Sousa, vai decidir de sanciona a lei, se a veta ou, mais provável, se suspende tudo e manda o caso ao Tribunal Constitucional.

LIBERDADES. Comissão do Governo, dirigida por antigo presidente do Supremo, concluiu ser inconstitucional manter as pessoas em suas casas. Só se houvesse um “estado de emergência”, posto que “corresponde à privação de um direito fundamental que é a liberdade”. Bom mostrar isso a prefeitos e governadores que estão doidos para reviver o passado.

DINHEIRO. Grande quantidade de estabelecimentos, em Lisboa, não aceita mais receber pagamentos em dinheiro. Só cartão. O futuro, parece, vai ser mesmo digital.

ECONOMIA. Já se discute, no Congresso, projeto de lei para criar uma “semana de 4 dias”. Ainda longe de consensos. Patrões aceitam que empregados folguem mais um dia, desde que haja redução de salários. Sindicatos, só se forem mantidos como estão. Não será uma negociação fácil.

GAL COSTA. Todas as fotos de Gal, nos jornais da terrinha, são respeitosas. Enquanto nos grandes jornais do Sul houve um campeonato para ver quem mostrava mais os peitos da cantora. Perdão, senhores, mas há algo de (muito) errado com a dimensão de espetáculo do jornalismo brasileiro.

GREVES. Em Portugal, são diferentes. Por respeitar o público. Enfermeiros, por exemplo, marcaram quatro dias de greve – 17, 18, 22 e 23. Uma decisão civilizada. Que todos se programam para não ir, aos hospitais, nesses dias.

ISRAEL. O futuro primeiro-ministro Netanyahu propõe que o parlamento possa reverter decisões do Supremo. E todos consideram isso, por lá, normal. Aqui, seria preso pelo ministro Alexandre de Moraes – o mesmo que, na diplomação, esta segunda, fez um discurso de sangue (“ato político de guerra”, em palavras de José Neumanne Pinto), para um país que precisa de paz.

POLÍCIA. Notícia espantosa. Nos últimos anos os mortos na polícia portuguesa, por suicídio, são quatro vezes maiores que por bala.

SALÁRIOS. Dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que, no último ano, a perda média de salário foi de 4,7%. Com inflação, nos alimentos, de 18%. O que nos remete ao Brasil, em que nossos iluminados pretendem enfrentar a inflação (mesmo já bastante baixa, em comparação com o Primeiro Mundo) rompendo o teto de gastos e torrando recursos que o Estado não tem. Ainda justificando, tudo, com a desculpa de que devemos nos preocupar com isso apenas mais tarde. É a receita certa para o desastre.

SUPREMO. Em decisão discutível, do Supremo daqui, empregados com filhos menores não precisam trabalhar nos fins de semana. O ativismo dos tribunais brasileiros fazendo escola. Problema é que os patrões começam a não querer mais contratar empregados com filhos pequenos, o tiro vai saindo pela culatra.

TEATRO. Fazendo sucesso, em Paris, a peça A Beleza de Matar Fascistas. E o autor, Tiago Rodrigues, se confessa um democrata. Caso não fosse, mataria mais quem?

ÚLTIMA NOTÍCIA. Morreu, no Iran, Amou Haji, com 94 anos. O último banho tomou quando tinha 20 anos. Segundo ele, porque “banho faz mal à saúde”. O risco é ser copiado, por aqui.

P.S. Mais uma tragédia na Copa do Mundo. Triste Brasil. Fosse pouco, ainda tendo que aturar um técnico que se recusa a cantar nosso hino, em razão de convicções políticas (???) ou apenas por não saber a letra (longa demais, para sua pouca memória). Único consolo, ao menos para nosso Timba, é que HEXA continua sendo LUXO. E, como despedida, historinha que ouvi de Serginho Oliveira (ele não sabe de quem é). Um jornalista pergunta, a Pelé:

– A seleção de 70 ganharia da Croácia?

– Sim, claro.

– Placar?

– 2 x 1.

– Tão pouco?

– É que já morreram Félix, Carlos Alberto, Everaldo, e jogar com 8 não é fácil. Sem contar que já estamos, todos, com mais de 80 anos.

 

 

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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