José Paulo Cavalcanti Filho, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e colaborador do Espaço Democrático
Edição: Scriptum
Notícias que, penso, interessarão aos brasileiros.
ALIMENTOS BIOLÓGICOS. Em O Publico ‒ OP, manchete na capa com título “Os alimentos biológicos estão em moda, mas muito não passa de um mito”. Dentro, em longa matéria, outras manchetes com destaque: “Maior riqueza nutricional é só um dos mitos à volta dos alimentos biológicos”; ou “Comer biológico é uma decisão, não uma recomendação de saúde”. Em resumo, “os alimentos biológicos não são mais nutritivos, nem evitam doenças”. É tempo de abrir esse debate agora, no Brasil.
ANIMAIS. A revista Visão dá notícia de que, no aeroporto de São Francisco (Estados Unidos), estão à disposição dos passageiros animais, para alugar, destinados a acalmar ‒ dois cães, um coelho e um porco. Falta mais nada.
CANIBAIS. Tudo começou com o bispo português Dom Pedro Fernandes Sardinha, que foi devorado em Salvador por índios caetés. Depois, já na terrinha, foram ucranianos comendo portugueses. E, agora, um português comendo brasileiros. Uma ironia. Que não faz sentido comer carne humana, por lá, que Portugal tem (depois do Brasil), a melhor culinária do mundo.
CHARGES. De Luís Afonso, em OP; que valem para Portugal e também, talvez, para o Brasil. Uma sobre o mundial de futebol feminino. 1. Homem do bar “O presidente da República disse que é possível fazer o impossível”. 2. O amigo “É possível fazer o impossível?”. 3. Homem do bar “No futebol”. 4. O amigo, “No desenvolvimento do país é impossível fazer o possível”. Outra: 1. Homem do Bar: “2 anos após os talibãs terem tomado Cabul…”. 2. “O Afeganistão vive um pesadelo humanitário”. 3. Cliente: “A comunidade internacional não faz nada?” 4. Homem do Bar. “Infelizmente, não há por lá grandes oportunidades de negócios”. Poderia completar dizendo nem índios, nem florestas…
CIGARROS E CHARUTOS. O Ministério da Saúde quer proibir o fumo, em todos os lugares. Mesmo, como diz manchete de OP, reconhecendo que “portugueses estão a consumir mais tabaco e menos sedativos”. Conclusão, é bom calmante. Um deputado, na Assembleia da República (equivalente a nosso Congresso, que Portugal não tem Senado), perguntou ao representante do ministro da Saúde a razão, “Para proteger a vida do próprio fumante”. Em seguida, o mesmo deputado perguntou se iriam também proibir o álcool, “Não”. E o deputado “Quer dizer que o cidadão deixa de fumar, para não morrer; mas pode tomar aguardente e dirigir um carro que vai matar os outros?”. “Infelizmente, sim”. Para piorar, o ministro Manuel Pizarro declarou, à revista Visão, “Talvez fume uns 10 cigarros e uns 10 charutos por ano, recreativamente, em casamentos ou situações do gênero”. Quer dizer quem for do governo, pode. E, os outros, que se lixem. Pelo tumulto que se viu, na Assembleia e nos jornais, não vai ser fácil aprovar uma lei assim.
COVID. Primeira página do Diário de Notícias ‒ DN diz “Covid 19, nova variante parece escapar das vacinas”. A seguir, em página inteira, “EG.5 ou ERIS, o que se sabe sobre a nova variante da Omicron?”. Mais longa matéria, com gráficos. Prepare-se, amigo leitor, para fortes emoções.
CREMES CAROS. Miguel Esteves Cardoso, em sua coluna de OP, informou já estar à venda, em Portugal, o Platinum Rose Haute-Rejuvenation Protocol, que promete devolver juventude à pele. Um vidrinho que cabe na mão, com só 24 milímetros, ao custo de 1.796 euros cada unidade. Traduzindo, mais de 11 mil reais. Quem quiser meio litro vai pagar 37.375 euros. Bem mais que 200 mil reais. Sem acreditar procuramos, nas casas de Lisboa, para ver se era verdade. E a resposta em todas as lojas, espantosa, foi “já acabou”. “Chegam e logo são vendidos”, dizem os balconistas. Dá pra acreditar?
EMPREGOS. A revista Visão informa que, na Alemanha, há 773.087 vagas disponíveis. E o governo de Olaf Scholz já anuncia que está aceitando estrangeiros. Quem quiser se habilitar, a hora é essa.
IA. A revista Visão anuncia que “14 milhões de empregos desaparecerão nos próximos 5 anos”. Culpa da Inteligência Artificial, que “pode implicar na eliminação de profissões”. E, na primeira página de OP, “Universidades: multiplicam-se os cursos de Inteligência Artificial”. Dentro, na matéria, “cursos atraem cada vez mais alunos”. Enquanto isso, pelo Brasil, nada.
JUROS. Continuam subindo, na Europa. Primeira página de OP: “BCE (Banco Central Europeu) volta hoje a subir juros”. No mesmo dia que o FED (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) elevou, o de lá, para 5.5% ao ano. O maior das últimas duas décadas. É bom, por aqui, não esperar grandes novidades nessa matéria.
LINDA‒A‒VELHA. Manchete do jornal Olhar Eiras chama atenção, ao referir o local onde se vai construir uma linha férrea, “Linda‒a‒Velha”. Um nome poético. Lembro Manoel Bandeira, no seu Evocação ao Recife, “Nomes das ruas de minha infância, Rua do Sol… da Saudade… da Aurora”. Cumpre dizer, agora, como é belo o nome desse lugar que não conheço, Linda‒a‒Velha.
MÉDICOS BRASILEIROS. Primeira página de OP: “Governo quer até 300 médicos da América Latina para centros de saúde”. Quem quiser, a hora é essa.
MUDANÇA DE GÊNERO. Manchete de OP diz “Num ano, mais de 500 pessoas mudaram de gênero e nome no Cartão Cidadão” (nossa Carteira de Identidade). Em 2022 foram, exatamente, 519 pessoas. Entre os pedidos, 146 feitos por menores de idade. Nos últimos 12 anos, 2.312 pedidos. Explicando-se a estatística porque só a partir de 2010 passou a ser a prática permitida. Sem informação de se foram mais homens que passaram a ser mulheres ou o contrário. Seria bom saber os números aqui, no Brasil.
NOMES NEUTROS. OP informa que a Assembleia da República discute o art. 103 do Código do Registro Civil ‒ segundo o qual os nomes próprios não devem “suscitar dúvidas sobre o sexo do registrado”. Darci, Galba, por aí. E, ainda, um Cartão do Cidadão em que não conste sexo. É meio complicado.
PLANTAS ELÉTRICAS. OP dá a notícia de um projeto da empresa Bioo, de Viladecans (Baracelona, Espanha), que pretende enterrar baterias “para produzir energia a partir de microrganismos no solo”. Se der certo, vai ser uma festa.
POLÍTICA. A TV Sucesso, de Moçambique, exibe discurso de Deputado com expressão que poderia valer hoje, no Brasil, o “lambebotismo”. Com seus operadores, os “lambelotistas” ou “lambedores”. E os do governo, com seu poder, que seriam os “lambidos”. A expressão, que vem da subserviência às botas militares, vale hoje para populistas em geral que gostam de serem adulados. E que existem no Brasil, em Moçambique e no mundo todo.
RELIGIÃO. Mais da metade dos jovens portugueses entre 14 e 30 anos, diz OP, são “crentes”. Gostaria de ver essa estatística, no Brasil.
RIO AMAZONAS. Na primeira página do DN está “Descer os 3.500km do Amazonas foi a grande aventura de minha vida”, diz António Carrelhos, que se define como “jurista, gestor e aventureiro”. Um estrangeiro ensinando, aos brasileiros, que precisamos conhecer nosso País.
SALVA VIDAS. Alguns nomes portugueses continuam a nos assustar. Como essa manchete de OP, “Faltam quase mil nadadores-salvadores para vigiar as praias portuguesas”. Nossos salva-vidas. Outra manchete de OP diz “todos os anos são liberados 20 mil furos em Portugal”. Furos aqui, antes que se leia com maldade, são poços artesianos. Sei não… O “canhão de Nazaré” anda longe de pólvoras ou balas. É só um canyon, no mar de Nazaret, que permite as mais altas ondas do mundo para o surfe (fui lá, experimentar, a prudência recomendou deixar para outro dia). A Baronesa de Santiago perguntou, a dona Lectícia, se a mãe dela havia sido “incinerada”. Foi cremada, mas soa esquisito. X-acto é estilete. Esferovit é isopor. Atacador é cadaço. Dióspiros é caqui. Alperci é damasco. Pensorápido é band-aid. Gravador é grampeador. No mais, a gente se acostuma. Robim dos Bosques é Robin Hood. O rato Mickey é Mickey Mouse. Os 3 Estarolas são os 3 Patetas. Bucha e Estica são o Gordo e o Magro. Para completar sugiro que nenhum brasileiro, em Portugal, peça “ladrilho com durex”. Que “durex” é camisinha; e, “ladrilho”, um boquete.
P.S. Antes que me esqueça, se quiser durex mesmo, peça na loja fita-cola. E isso.
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