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{ ARTIGO }

Número de leitores e hábitos de leitura: dados preocupantes

Luiz Alberto Machado analisa o estudo da Câmara Brasileira do Livro: apenas 16% dos brasileiros comprou pelo menos um livro nos últimos 12 meses

Luiz Alberto Machado, economista e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

Num de meus recentes artigos para o Espaço Democrático, focalizei a importância das viagens e das leituras como complementos da educação.

Por insuficiência de renda, porém, um volume limitado de brasileiros tem possibilidade de realizar viagens e parcela considerável dos que conseguem, não têm condições ideais para expandir sua educação, quer pelas localidades visitadas, quer pelos próprios hábitos que não priorizam museus, exposições, teatros, bibliotecas, livrarias, galerias de arte ou outros locais que teriam impacto relevante nesse sentido.

Já com relação à leitura, o quadro não é menos preocupante, de acordo com o estudo realizado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pela Nielsen, divulgado pelo jornal O Estado de S.Paulo em sua edição do último dia 8 de fevereiro.

O estudo, que ouviu 16 mil pessoas com mais de 18 anos, de todas as regiões do País, revela que só 16% da população brasileira comprou pelo menos um livro − físico ou digital − nos últimos 12 meses, o que significa que 84% dos brasileiros não compraram um livro sequer nesse período.

Entre os que consomem livros, as mulheres são maioria (61%), com destaque para a classe C, já que 46% das consumidoras pertencem a esse estrato social.

A maioria dos consumidores (42%) comprou entre três e cinco livros nos últimos 12 meses, perdendo para roupas, celulares e brinquedos, mas posicionando-se à frente de produtos como televisão, vinhos, jogos de apostas e apostas esportivas.

A economista Mariana Bueno, responsável pela pesquisa, alerta para o fato de que tem gente que não compra, mas está lendo. Efetivamente, o estudo aponta que entre os 84% de não compradores de livros, 32,4% leram, seja em PDFs gratuitos, livros emprestados ou livros digitais pirateados.

Outros dados do estudo que merecem destaque são: 1°) 55% dos consumidores preferem comprar livros on-line − normalmente a preços mais acessíveis − enquanto 39% optam por lojas físicas; 2°) uma fatia importante dos consumidores (30%) é de leitores híbridos, que compraram, em proporção equivalente, livros físicos e digitais; 3°) tanto para os compradores em livrarias quanto para aqueles que compram nas lojas digitais, as categorias mais buscadas foram, pela ordem: não ficção para adultos, ficção adulta e cientifica, técnica e profissional, com pequenas variações percentuais.

O estudo da CBL e da Nielsen, que focaliza prioritariamente o comportamento dos compradores de livros, traz dados que confirmam em grande parte os dados da Pesquisa Retratos da Leitura, realizada pelo Instituto Pró-Livro, o Ipec e o Itaú Cultural, divulgada em novembro de 2024, que prioriza mais os hábitos e preferências dos leitores.

O levantamento, que entrevistou 5.504 pessoas em 208 cidades brasileiras, mostrou que o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores entre 2019 e 2024. Segundo o estudo, 53% da população não havia lido um livro ou parte de um nos três meses anteriores, o que classificaria, segundo a pesquisa, a pessoa como leitora. Considerando a leitura de um livro inteiro, o percentual de leitores cai para 27%. Foi a primeira vez, em seis edições da pesquisa, que o número de não leitores superou o de leitores. O estudo revelou que o brasileiro lê, em média, 3,96 livros por ano, índice menor do que o registrado em 2019, quando o brasileiro lia 4,95 livros por ano.

A pesquisa aponta que a Bíblia lidera folgadamente entre os livros preferidos, o que fica claramente exposto em perguntas como “Qual foi o livro mais marcante que você leu?” ou “Qual o livro ou gênero de que você mais gosta?”.

Geograficamente, a pesquisa revela que Santa Catarina, Paraná e Ceará lideram o ranking dos leitores, enquanto os Estados com menores índices são Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Piauí, Paraíba, Alagoas e Sergipe.

Aspecto relevante evidenciado pela pesquisa aponta para a crescente concorrência com as redes sociais e as plataformas de streaming, num claro sintoma dos tempos atuais: 78% dos entrevistados preferem usar o tempo livre na internet, seja acessando o WhatsApp ou Telegram (71%) ou navegando pelas redes sociais (49%). Chamam atenção também os que preferem utilizar o tempo livre assistindo televisão (71%), escutando música ou rádio (60%) ou assistindo a vídeos, séries ou filmes em casa.

Por fim, ao serem questionados sobre eventuais dificuldades para ler, 18% dos entrevistados responderam que leem muito devagar, 14% não têm concentração suficiente para ler e 8% afirmaram não compreender a maior parte do que leem, confirmando uma das constatações dos especialistas em educação − fato também evidenciado nas avaliações internacionais como o PISA (Programme for International Student Assessment) − de que um contingente significativo dos brasileiros considerados alfabetizados não conseguem ou têm sérias dificuldades para interpretar o que leem.

Como se pode observar pelo exposto, embora os indicadores revelem que, quantitativamente, o Brasil tenha avançado em termos de acesso à educação, no plano qualitativo ainda há um longo caminho a percorrer, quer no que se refere à educação formal, com destaque para a relação entre ensino e aprendizagem, quer nos complementos educacionais representados pelas viagens e pelas leituras.

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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