Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Um novo personagem desponta nesse mundo tão cheio de novidades que envolve a comunicação contemporânea. Trata-se do “assuntista”, uma espécie de “coach” de generalidades, alguém que consegue ter opinião sobre todo e qualquer assunto que frequentar a sobrecarregada pauta de discussão sobre tudo e todos que nos persegue do espreguiçar matinal ao derradeiro bocejo noturno.
O “assuntista” é um ser logicamente inviável. Ele se propõe a ser um especialista universal – o que já configura uma contradição nos próprios termos da proposição. É impressionante a desenvoltura com a qual emite suas opiniões sobre temas desconhecidos e a quantidade de certezas que evoca. Aborda com convicção o que desconhece;
O “assuntista” não aceita ser contrariado porque suas “ideias” estão solidamente fixadas na convicção. Isso é um perigo. O filósofo Friedrich Nietzsche disse que o pior inimigo da verdade não é a mentira; é a convicção. Fuja dos convictos, se deseja chegar perto da realidade.
É no emaranhado das redes sociais que a criatura viceja e se reproduz, mas não só. A recente eleição de Trump multiplicou exponencialmente a quantidade de palpiteiros nos meios de comunicação tradicionais: jornalistas, os onipresentes advogados (anualmente, o Brasil forma algo em torno de 90 mil advogados), humoristas, fanfarrões. Todos se sentiram empoderados para dar seus “pitacos”.
Esse ser intelectualmente teratológico tem ideias curtas e opiniões longas. É um chato. Quando encontra alguém mais qualificado no debate, socorre-se de alguma falácia e segue firme na sua postura de mestre do raciocínio e gerenciador da conexão entre os fatos. Quando eles começam sua performance, o melhor conselho é sair de perto.
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