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{ ARTIGO }

O brilho do alumínio na economia verde

Decisões de órgãos reguladores devem ser tomadas com critérios técnicos, sem interferências ideológicas que travam o desenvolvimento sustentável, aponta Alexandre Silveira

Alexandre Silveira, ministro das Minas e Energia

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Com o avanço dos esforços para a transição energética no mundo, uma das principais oportunidades que se abrem para o Brasil consiste na exploração responsável dos minerais críticos e estratégicos. O País dispõe de reservas conhecidas muito expressivas, a exemplo de nióbio, grafita, terras raras, níquel, manganês e lítio, e ocupa posições de destaque no ranking global.

Nesse conjunto, há um lugar especial para a bauxita, a principal matéria-prima para a produção do alumínio, que é o segundo metal mais utilizado e o terceiro mais abundante no planeta. No Brasil, destacam-se as reservas de bauxita do Pará, Minas Gerais e Goiás.

O alumínio está presente no cotidiano das famílias em bens de consumo como panelas, geladeiras, cadeiras e bicicletas, assim como na construção civil em esquadrias e revestimentos. Faz parte dos meios de transporte em aviões, carros, vagões e barcos, além das grandes estruturas de cabos de transmissão de energia. Tem aplicação consolidada no setor de embalagens – de alimentos e bebidas aos produtos farmacêuticos e de limpeza.

De acordo com a Abal (Associação Brasileira do Alumínio), esse material é importante para a expansão de fontes renováveis, como os painéis solares, por fatores como leveza, resistência à corrosão, capacidade de refletir luz e condução térmica. O alumínio tem utilidade também em partes integrantes das turbinas eólicas. Outro aproveitamento está no desenvolvimento de células de combustível, um dispositivo eletroquímico que converte o hidrogênio diretamente em eletricidade.

Na indústria automobilística, o emprego do alumínio em carrocerias proporciona ganhos de eficiência por conta da redução do peso dos veículos, do aumento da capacidade de carga e do menor consumo de energia. Pode-se citar ainda a destinação para baterias, dispositivos eletrônicos de pequeno porte, armazenamento de energia estacionária e em veículos elétricos. Isso sem falar do papel da reciclagem na economia circular, convergente com a transição energética.

O impacto para o desenvolvimento econômico e social merece atenção. No todo, a indústria brasileira de alumínio respondia por 511,6 mil empregos em 2023. Somos o 9º maior produtor de alumínio primário, precedidos por China, Índia, Rússia, Canadá, Emirados Árabes, Bahrein, Austrália e Noruega, e o terceiro maior de alumina (a bauxita refinada), atrás da China e da Austrália. No comércio exterior, as exportações do metal e seus produtos, incluindo bauxita e alumina, representaram em média 1,4% das vendas externas brasileiras em 2023.

A reserva brasileira de bauxita é a 5ª maior do mundo. Estamos em 4º lugar entre os maiores produtores, atrás só de China, Guiné e Austrália. Em 2024, o Brasil produziu 44 milhões de toneladas de bauxita, com atuação de empresas como MRN (Mineração Rio do Norte), Norsk Hydro Brasil, Alcoa, Companhia Brasileira de Alumínio, Terra Goyana Mineradora e outras.

O setor aposta no crescimento do mercado. A exemplo da MRN: atuante há mais de quatro décadas no Oeste do Pará, a companhia está implantando o Projeto Novas Minas, com investimentos de R$ 524 milhões.

Há dois desafios pela frente. No primeiro deles, a bola está no campo das empresas do setor. Um estudo recente da Irena (Agência Internacional para as Energias Renováveis, na sigla em inglês) mostra que “embora o alumínio ofereça grande valor às sociedades modernas, ele também é um contribuinte significativo para as mudanças climáticas”. Foi responsável por cerca de 1,1 gigatoneladas de emissões de dióxido de carbono (CO2) em 2022, principalmente por causa da dependência de combustíveis fósseis como fonte de energia no processo produtivo.

A boa notícia é que a indústria brasileira vem investindo, segundo a Abal, em iniciativas que impulsionam a redução de suas emissões setoriais por meio da substituição de fontes fósseis. Isso vem se dando, por exemplo, mediante uso intensivo e exclusivo da biomassa nas caldeiras, melhorando a qualidade e realizando a substituição em 100% do uso do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo).

Há também eletrificação das caldeiras, aumento da eficiência energética e parcerias para emprego de energia solar e eólica. Também estão sendo introduzidas melhorias por meio de inteligência artificial e outras tecnologias para reduzir o consumo específico dos combustíveis ou aumentar a produtividade.

Em 2024, visitei as instalações da Alunorte, localizada em Barcarena (PA), a maior refinaria de alumina fora da China. Pude constatar, com otimismo, o trabalho que vem sendo realizado para descarbonizar a produção.

O segundo desafio está nas mãos de instituições que cuidam da liberação e das atividades do setor, a exemplo da ANM (Agência Nacional de Mineração), do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), este particularmente importante para a proteção dos direitos dos povos e comunidades tradicionais como os quilombolas.

As decisões desses órgãos devem ser sempre fundamentadas em critérios técnicos e de real inclusão social, assegurando que os interesses legítimos das comunidades sejam tratados com responsabilidade e equilíbrio e evitando o uso político de pautas sensíveis. Precisamos de mais senso de urgência em projetos prioritários para o Brasil, sem a interferência negativa das motivações ideológicas que travam o desenvolvimento sustentável e acabam sendo prejudiciais a todos.

 

Artigo publicado no site Poder360 em 29 de maio de 2025.

 

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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