Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Visualizando de drone, tudo parece muito igual. Milhões de brasileiros e brasileiras de bermuda, regata ou top, sandálias havaianas nos pés. Descendo a altitude da geringonça para perto da rua de uma cidade como São Paulo ou Rio de Janeiro, a visão fica bem mais clara. Nos bairros dos Jardins, na capital paulista, ou no Leblon, lugar top da cidade mais icônica do mundo, onde o drone pode ser facilmente alvejado por uma rajada de metralhadora, um manobrista estaciona seu carro por duas horas a poucos metros do restaurante escolhido por algo em torno de R$ 30,00.
Segundo o IBGE, 27,4% dos brasileiros viviam na pobreza em 2023, o melhor momento do indicador desde 2012. Entre crianças com menos de 14 anos, esse número chega a inacreditáveis 44%. Linha de pobreza significa uma renda per capita familiar de até R$ 606,00 por mês. Olhando através da lupa, são R$ 20,00 por dia para despesas de alimentação, transportes, remédios, moradia, roupas etc. Ou seja, quase um terço dos brasileiros tem uma renda diária correspondente a cerca de 66% do que uma empresa de “vallets” cobra por duas horas do proprietário de um veículo que não quis ir de Uber ao seu restaurante preferido.
O quadro é dantesco. Mas os principais jornais do Brasil trouxeram manchete que variavam na forma, mas tinham todas o seguinte conteúdo: “Pobreza e miséria caem ao menor nível desde 2012”. Aparentemente, a informação é digna de fogos de artifícios e rufar de surdos e tamborins. Mas não existem motivos para tanta euforia. As questões a serem colocadas por quem está interessado em saber a verdade são as seguintes: existe uma política econômica que justifique ou projete para o futuro essa “melhora”? Qual o custo que esse “avanço” tem para a sociedade como um todo?
Política econômica, entendida como um conjunto de medidas de médio e longo prazos, que oriente o desenvolvimento do País levando em conta suas potencialidades, não existe faz tempo. Corremos no dia a dia atrás do fechamento das contas no final do ano. E a queda da pobreza e da miséria foi conseguida ao custo de um aumento de R$ 97 bilhões no Bolsa Família, dinheiro que o Estado brasileiro não tinha. Ou seja, emprestamos no mercado pagando a maior taxa de juros do planeta quase R$ 100 bilhões, explodimos a meta fiscal, distribuímos esse dinheiro remunerado a peso de ouro para os mais carentes e consideramos isso uma vitória. O País ficou é mais pobre, isso sim.
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