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{ ARTIGO }

O PT, o presidente Lula e o seu governo

A análise política superficial tende a confundir três entidades que tem dinâmica própria, escreve Rogério Schmitt

 

Rogério Schmitt, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

Edição: Scriptum

 

Às vezes, na análise política séria, precisamos reiterar certas obviedades naturais que, entretanto, escapam aos comentaristas mais ideologizados do sistema político. Mais especificamente, na atual conjuntura, não é difícil esbarrarmos em análises contaminadas por um forte viés ideológico, as quais confundem (deliberadamente ou não) três entidades claramente distintas: o PT, o presidente Lula e o governo Lula.

Por ser um cientista político que acompanha profissionalmente a política brasileira, acabo me deparando quase diariamente com tal tipo de comentário. Não deixa até de ser engraçado, pois nessas pseudoanálises o sujeito das frases vai sendo trocado incessantemente no decorrer do percurso: o partido do presidente se transforma magicamente na pessoa do presidente, a qual logo se transfigura também no governo que ele lidera.

A premissa oculta deste tipo de análise é que o PT, o presidente Lula e o seu governo são três termos intercambiáveis, e que sempre significam rigorosamente a mesma coisa. Nada mais falso do ponto de vista analítico, como pode ser facilmente demonstrado!

O PT é um tradicional partido político brasileiro, situado majoritariamente no campo da esquerda, e cujos atuais representantes ocupam 19,3% das cadeiras da Câmara dos Deputados e 9,9% dos assentos do Senado Federal.

O petista Luiz Inácio Lula da Silva é um líder político carismático (no sentido weberiano), atualmente em seu terceiro mandato no Palácio do Planalto, e que já disputou seis eleições presidenciais desde 1989. Em 2022, Lula recebeu 48,4% dos votos válidos no primeiro turno, e 50,9% dos votos no segundo turno.

Estes primeiros dados já bastam para concluir, por exemplo, que a figura política do presidente Lula é muito maior do que a do seu próprio partido. Em termos percentuais, a votação de Lula equivale a duas vezes e meia o número de deputados petistas, e a quase cinco vezes o número de senadores. Em outras palavras, a imensa maioria do eleitorado lulista não vota nos candidatos do PT para o Congresso Nacional.

Mas, naturalmente, esta obviedade é convenientemente ignorada pelas análises ideológicas, que teimam em equiparar o apoio ao presidente Lula com o apoio ao PT!

A terceira incógnita da equação é um animal político ainda mais complexo. O governo liderado pelo presidente Lula é um governo de coalizão, atualmente composto por ministros filiados a sete partidos (ou federações partidárias) distintos. Essa lista inclui siglas de esquerda, de centro e até de direita. Os relatos da imprensa sugerem, além disso, que outros dois partidos (do campo da direita) estão prestes a também ocupar cargos na Esplanada dos Ministérios.

Pelas minhas contas, essa coalizão governista conta hoje, no Congresso, com o apoio nominal (que, naturalmente, não será sempre um apoio real) de cerca de 53% dos deputados e de cerca de 62% dos senadores. Aqui, também, a expressão política do governo Lula ultrapassa as fronteiras até mesmo do apoio eleitoral à candidatura lulista. E a aguardada reforma ministerial ampliará ainda mais os limites nominais do apoio legislativo ao governo.

Estes mesmos cuidados analíticos podem (e devem) ser utilizados na análise dos governos anteriores (e posteriores) ao atual. Sem a devida separação entre o joio e o trigo, a análise política séria viraria uma mera repetição de adjetivos e interjeições carregados de viés ideológico.

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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