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{ ARTIGO }

Os Jedi e os Sith na análise política

Cientista político Rogério Schmitt compara dois tipos de análise política: a feita a partir de critérios ideológicos e a com base em conceitos rigorosos

Rogério Schmitt, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

Only a Sith deals in absoluts” (em tradução livre: “Somente um Sith pensa de modo tão radical”)

Obi-Wan Kenobi para Anakin Skywalker, no filme Star Wars: Episódio III, de 2005

 

 

Esta epígrafe se origina de uma das minhas cenas favoritas da saga cinematográfica Star Wars, criada pelo diretor americano George Lucas. Naquele universo fictício, os Sith são os inimigos mortais dos Jedi, uma ordem de cavaleiros dedicada à manutenção da paz na galáxia.

Especificamente, ela foi retirada de um tenso diálogo entre o mestre Jedi Obi-Wan Kenobi e o seu ex-pupilo Anakin Skywalker, que seduzido pelo lado negro da Força, transformara-se em um poderoso Sith, doravante conhecido como Darth Vader.

Mas o que tudo isto tem a ver com análise política? A equivalência aparece quando se compara a análise política feita a partir de critérios ideológicos (no mau sentido da palavra) com aquela feita com base em conceitos analíticos rigorosos.

Chamo de análise política ideológica aquela construída a partir de chavões de propaganda político-partidária ou de doutrinas econômicas e políticas abstratas. Além da superficialidade conceitual, esse tipo de abordagem ou não se utiliza de dados empíricos, ou se utiliza somente daqueles que a favorecem (omitindo da análise os dados desfavoráveis). A análise ideológica trabalha apenas com categorias absolutas, e é incapaz de reconhecer a heterogeneidade e a complexidade do mundo político real.

Por outro lado, a melhor análise política sempre leva em conta as “zonas cinzentas” que existem na política tal como é. Ela reconhece que a conjuntura política, seja ela qual for, sempre oferecerá, ao mesmo tempo, riscos e oportunidades. Este tipo de abordagem procura fugir das narrativas ideológicas e escolhe aplicar conceitos (quase sempre derivados da ciência política) formulados de forma clara, objetiva e, sempre que possível, empiricamente mensuráveis.

Na análise política ideológica, os fatos são detalhes irrelevantes sem poder algum para rejeitar as conclusões analíticas envolvidas, as quais já estavam dadas antes mesmo de serem confrontadas com a realidade. Exatamente o contrário do que ocorre na boa análise política, cujo mérito depende da ponderação entre evidências favoráveis e desfavoráveis, e do reconhecimento de que o mundo da política não é um confronto entre o bem e o mal.

Em outras palavras, a análise política ideológica é um mal que leva os que a praticam a enxergar o rico universo da política a partir de categorias abstratas e radicais. Exatamente como fazem os Sith no universo de Star Wars. Segue abaixo um exemplo prático bem atual.

No debate político sobre tragédia das enchentes que ora se desenrola no Rio Grande do Sul, há os Sith que defendem a tese de que a ajuda mais eficaz às vítimas das inundações é tão somente aquela oriunda do setor privado, demonizando a ajuda do poder público. E há também os Sith que endeusam as ações paliativas governamentais e que demonizam as iniciativas beneficentes de indivíduos e de empresas. Tanto num caso como no outro, são preferências derivadas de ideologias abstratas.

Onde estaria o ponto de equilíbrio neste debate? Em colocar as vítimas em primeiro lugar, reconhecendo que tanto o governo quanto o setor privado têm papéis importantes a desempenhar na assistência aos desabrigados e na prevenção de novas tragédias no futuro. E reconhecendo também o papel inestimável exercido pelo chamado terceiro setor, formado por igrejas, associações comunitárias e de moradores, além de outras organizações não governamentais.

Por menos Sith e por mais Jedi na análise política. E que a Força esteja conosco!

 

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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