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{ ARTIGO }

Pai de 66 anos com filho de 14

Cientista político Rubens Figueiredo escreve sobre o desafio que fez para o filho

 

Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático

Edição Scriptum

 

Aos 66 anos, adoro um jornal impresso. Outro dia resolvi explicar para meu filho Gabriel, 14, como funciona o dito cujo. Ele achou o processo meio demorado e esquisita a ideia de ter que esperar tanto tempo para saber o que aconteceu ontem. Ele é TikTok e acha o fim da picada um Uber demorar mais de três minutos para pegá-lo onde está. Também parece natural para ele o IFood: comida que ele mais gosta no prato em, no máximo, 40 minutos.

São 52 anos de diferença. Eu era futebol de rua. Ele é jogo no celular e laptop. Eu precisava dar conta de encontrar mais uns 10 ou 12 moleques para montar uma “pelada” no campinho. Ele joga a hora que quiser com gente que nunca viu, muitos deles morando em outros países. Eu tinha que esperar a foto ser revelada. Ele pode tirar – ver e enviar para quem quiser – centenas em poucos minutos. Eu também posso, mas não nasci podendo.

Eu era telefone. E telefonista. Fazer um interurbano se equiparava a uma epopeia digna dos 12 trabalhos de Hércules. Amigo que não era da mesma escola encontrava quase sempre por acaso no clube ou na igreja. Ele nasceu celular puro. Eu era TV, ele é Youtube. Sabe o que os amigos estão fazendo em tempo real. Quando nasci, o Brasil tinha 66 milhões de habitantes e 55% moravam no campo. Hoje, tem mais de 200 milhões e apenas 15% moram no meio rural.

Normalmente, eu ia onde meus pais quisessem que eu fosse. Gabriel é quem orienta minha agenda. Meu pai mandava e acabou. Eu sou obrigado a negociar – e raramente logro muito êxito. Eu era o ídolo do meu pai, porque conseguia ligar mais rápido a televisão e sabia onde os programas mais interessantes estavam passando. Meu filho me associa a um paspalho que não sabe editar um vídeo ou entender a lógica dos algoritmos das redes sociais.

Com tantas desvantagens, estou tentando trazê-lo para jogar no campo, onde meu desempenho é melhor: cinema. Eu era sala de cinema, ele é streaming. Pois bem, vamos aproveitar mais essa vantagem dele e assistir juntos os filmes que eu mais gostei. Quem sabe eu crio uma identidade com meu filho 52 anos mais jovem?

A experiência tem sido sensacional, a ponto de ele me chamar para repetir o programa. São filmes que ele provavelmente jamais assistiria por si só, pois está sempre ocupado demais no celular. Então dei a ideia de fazer um ranking daqueles que mais gostou. Aí vão, pela ordem, os dez filmes preferidos que Gabriel, 14, assistiu com seu pai, 66. Jojo Rabbit, Titanic, 007 – O espião que me amava, Gladiador, Um estranho no ninho, O resgate do soldado Ryan, Gênio indomável, Tetris, Uma mente brilhante e Oppenheimer. Nem tudo está perdido!

 

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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