Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Resumo aqui, com alguns trechos diferentes, um artigo que publiquei no Estadão do dia 4 deste mês, depois de o IBGE divulgar, no dia 2, seu relatório referente ao PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre deste ano. Recorde-se que o crescimento do PIB nos últimos 5 anos foi de -3,28% (2020), 4,76 (2021), 3,02 (2022), 3,24 (2023) e 3,40 (2024), conforme o Ipeadata. O relatório mostrou crescimento de 0,4% no segundo trimestre, mas o pior veio com os comentários dos analistas de mercado sobre a taxa final do ano: nas estimativas, refletidas no boletim semanal Focus, do Banco Central, a previsão é de um crescimento de apenas 2,19% em 2025, e já estamos próximos do fim do ano. Ainda pior, as previsões em seguida, até 2028, ficam todas próximas de 2% – e em dois anos até abaixo disso. Ou seja, um cenário bem abaixo das cinco taxas acima sobre o período 2020-2024. O relatório completo do IBGE, com 36 páginas, pode ser acessado aqui.
Num gráfico do relatório são mostradas as taxas de investimento e de poupança bruta como proporção do PIB. No caso do investimento, ela estava em 16,8%, um valor muito baixo, e em 2013 ela alcançou 21,1%. Esta é uma questão muito importante e em outros artigos venho ressaltando que, para crescer bem mais, o Brasil precisaria ter e permanecer com uma taxa de investimento próxima de 25%.
Vamos ver agora a importância dessas taxas de investimento nas taxas anuais de crescimento do PIB. Contemplo agora um gráfico de outra fonte que apresenta essas taxas de crescimento de 1947 a 2024, e no qual distingo dois períodos. No primeiro, de 1947 a 1980, as taxas variavam entre 5% e 10%, enquanto no segundo período, pós 1980 até aqui, a variação predominante tem sido entre 0% e 5% e em uns poucos anos foram até negativas. Ou seja, no segundo período, o crescimento tem sido bem menor. Como se explica isso?
Noutro gráfico, no primeiro período o investimento público foi bem maior, subindo de 3% do PIB, em 1947, a 10%(!) em 1977. E daí em diante passou a cair até alcançar só 3% (!) do PIB em 2024. Em mais um gráfico, dei uma olhada também no investimento privado no período 1947-2024, Ele começa perto de 10% do PIB em 1947 e a partir de 1971 passa a crescer atingindo um pico de 20% em 1989, caindo logo em seguida para perto de 15% e estacionando em 14%. Ou seja, comparado com o início do período, subiu quatro pontos em percentual do PIB. Há quem diga que o investimento privado também caiu, mas isso não aconteceu. O que se pode dizer é que ele poderia ter crescido mais se as condições do investimento público também fossem positivas e estimulantes. Esses três últimos gráficos foram obtidos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE-FGV).
O que vem há tempos acontecendo na parte macroeconômica do governo federal é que ele segue uma política contraditória. Expandiu seus gastos fiscais, inclusive os sociais, reduziu os investimentos e faz isso sempre de olho em ganhar votos em 2026, mas isso causou inflação e teve que aceitar uma política monetária do Banco Central que elevou a Selic para 15% ao ano, ampliando o custo dos empréstimos, agravando o endividamento e desestimulando os financiamentos, o que se reflete na demanda macroeconômica. E com as eleições do ano que vem se aproximando, é possível que esse contraste se agrave, com novas expansões de gastos, em particular os sociais.
Por falar nas eleições do ano que vem, gostaria que fosse cobrado dos candidatos um plano de governo e que nesse fosse explicitado o que fariam com a taxa de investimento do setor público.
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