Roberto Macedo, economista e colaborador do Espaço Democrático
Edição: Scriptum
Em artigos anteriores vinha acompanhando previsões sobre a evolução do PIB em 2022 e 2023, observando que o relatório semanal Focus, do Banco Central, que recolhe as estimativas de analistas do mercado financeiro, mostrava um aumento da taxa prevista para 2022, aproximando-a de um pouco mais de 3% no ano. Enquanto isso, a previsão para 2023, que começou 2022 mostrando uma taxa de 0,5% passou a crescer trazendo-a para um valor um pouco mais alto em 2023. Mais especificamente, a última previsão do Focus consultada, levantada no dia 2 de dezembro, mostrava taxas de 3,05% para o PIB de 2022, e 0,75% para o de 2023.
Os últimos dados do PIB trimestral do IBGE, divulgados no dia 1º deste mês, revelaram taxas trimestrais, relativamente ao trimestre anterior, de 1,3%, 1%, e 0,4% para os três primeiros trimestres de 2022, mostrando assim taxas bem altas nos dois primeiros trimestres, que serão atuantes na determinação de uma taxa próxima de 3% no ano.
Contudo, há também a tendência de queda desses três números, o que dá suporte à previsão de uma taxa anual bem menor em 2023, conforme já citada. E as previsões são de que o resultado do quarto trimestre também ficará próximo de 0,4% – e há até algumas previsões de taxas abaixo desse valor. Cabe, então, explicar as principais razões dessa queda.
Segundo o noticiário sobre o assunto, sabe-se que pesou sobre o aumento em 2022 um forte crescimento do setor de serviços, o mais importante da economia, que inclui o comércio e responde por 70% do PIB pelo lado da oferta. Com o alívio da covid os consumidores foram mais às compras desses serviços pessoalmente.
Mas a inflação também subiu e, tentando contê-la, o Banco Central passou a aumentar a taxa básica de juros, trazendo-a para o valor anual de 13,75% ao ano no último ajuste realizado. Essa elevação dos juros também tem sido frequente no exterior. E tanto lá como aqui prejudicou o nível de atividade medido pelo PIB, pois o crédito em geral ficou mais caro para consumidores e investidores que, assim, retraíram a sua disposição de consumir e de investir.
Um aspecto interessante da melhoria da economia em 2022 foi que, finalmente, o PIB superou o valor que havia alcançado em 2014, a partir do qual a economia retrocedeu, caindo num movimento conhecido como depressão, pois foi forte e bastante extenso, como mostram esses oito anos transcorridos antes que o PIB alcançasse o valor alcançado em 2014. Dentro desse período, houve ainda duas recessões, a de 2015 e 2016, ligadas a dificuldades políticas e da política econômica no final do governo Dilma, e a mais recente, causada pela covid-19, entre 2020 e 2021.
Acrescente-se que a sucessão presidencial também trouxe incertezas para os agentes econômicos e elas também contribuíram para a desaceleração acima citada. Daqui para a frente, a economia também ficará dependendo do estado de ânimo dos agentes econômicos, o qual também será influenciado pelas medidas cogitadas pelo governo Lula na esfera da política econômica.
Continuaremos acompanhando a evolução do PIB para informar os leitores deste espaço. E quem quiser saber mais sobre essa evolução recomendamos uma consulta ao documento do IBGE sobre o PIB do terceiro trimestre de 2022, que também traz dados de períodos anteriores. O acesso a esse documento pode ser feito aqui.