Rubens Figueiredo
Edição Scriptum
Não sei se é politicamente correto ou se estou contribuindo de forma vergonhosa para acelerar o desmatamento global. Pode ser sinal de uma ligação nostálgica com o passado ou até um alarme de que estaria vivendo fora do mundo real da virtualidade. O fato é que, sim, eu leio jornal impresso. E, para mostrar de forma definitiva o quanto antiquado e esperançoso eu sou, de vez em quando ainda recorto e guardo artigos e matérias que me interessaram – e, com toda certeza, jamais olharei de novo.
Dizem que as bancas vendem mais jornais velhos para donos de pets do que as edições do dia. Deve ser verdade. Li em algum lugar que existem 168 milhões de animais de estimação no Brasil. E eles precisam de jornais. Eu mesmo tenho em casa uma cadela de médio porte, que deve ser reacionária, a julgar pela preferência que tem em prestigiar a Folha em detrimento do Estadão (agora pequenino) quando necessita se envolver com jornais velhos. Vai saber…
Nos jornais, as informações estão organizadas e o conteúdo é mais relevante. Estão lá, bonitinhos, todos os dias: a capa com a manchete e as chamadas, os editoriais, os artigos assinados, as colunas de notas políticas e de economia, as páginas de política nacional e internacional, economia, esportes, cidades, cultura. Você sabe onde está o quê, seleciona aquilo que quer ler e se dá bem na empreitada.
Já os sites de informação misturam tudo. É um caleidoscópio temático que dispersa a atenção do leitor. Mais confunde do que esclarece. Na hora em que escrevo, o UOL traz chamadas a votação do STF sobre 8 de janeiro logo acima de uma pesquisa on-line sobre quem chega pior à final da Copa do Brasil, um comentário de um jornalista esportivo, outro dizendo que a IA revela arritmias sem sintomas que causam AVCs, “Capeta indo para o culto” e por aí vai. Jornais são descartianos, mídia social é nietzschiana.
Outro dia eu estava procurando no mesmo UOL matéria sobre pesquisa e, em segundos, me deparei fuçando as notícias sobre o caso do jogador Antony, cortado da seleção brasileira de futebol por supostamente ter agredido a ex-namorada influencer. Fiquei sabendo que ela é DJ, faz performance no palco e mora na Europa. Nada disso me interessa. Por essa e por outras é que peço: não tenham preconceito com aqueles que leem jornais impressos. Eles merecem respeito.
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