Mario Pardini, engenheiro civil, administrador de empresas e ex-prefeito de Botucatu (SP), e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Como já apresentei em publicação recente, o emprego do lodo proveniente de estações de tratamento de esgoto tem impacto positivo no planejamento em saneamento básico, e hoje menos de 5% do volume sanitário gerado nas ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto) tem reaproveitamento no País. Ora, como trata-se de um resíduo que pode ter aproveitamento econômico e exploração de maneira funcional, é preciso refletir sobre ampliar o seu aproveitamento e seus potenciais.
Neste sentido, gostaria de destacar iniciativa no âmbito da unidade da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) de Botucatu (interior de São Paulo).
Antes de entrar propriamente no tema, repasso brevemente o que havia mencionado no texto anterior e destaco a importância das boas soluções em saneamento e a perseguição dos bons objetivos que estão estabelecidos no marco legal do setor, a Lei 14.026/20. A universalização dos serviços de saneamento no Brasil prevê, por exemplo, redução dos gastos decorrentes de doenças à população e o SUS (Sistema Único de Saúde). Também brevemente, estudo do Instituto Trata Brasil, que sugere que a universalização do saneamento básico pode gerar mais de R$ 1,4 trilhão em benefícios socioeconômicos para o Brasil em menos de 20 anos.
Dado que o saneamento tem enorme impacto social e econômico, as estratégias inteligentes e ambientalmente corretas para gestão do setor – para além do fim em si, já que tratar de saneamento tem total aderência às questões ambientais – devem ser sempre perseguidas.
O lodo de esgoto é um material de complexa composição, cuja destinação deve ser sempre analisada, já que vemos também esgotamento da capacidade dos aterros hoje existentes para recepção desses resíduos. E as Estações de Tratamento de Esgoto geram lodo de forma diária ou em períodos, dependendo do tipo de tratamento recebido. A grande maioria das ETEs, contudo, transporta e deposita este lodo em aterros.
No caso de Botucatu, temos a destacar a experiência adotada na compostagem desses resíduos, gerando como produto final material com teor de nutrientes (como nitrogênio, fósforo e potássio) e ausência de contaminantes/adequada presença de elementos químicos dentro de limites permitidos. Material apropriado ao emprego em agricultura.
A ETE de Botucatu, localizada na Fazenda Lageado, conta com baias de compostagem para a secagem do lodo de esgoto e sua transformação em composto orgânico, gerando um produto com umidade abaixo de 30% e nutrientes de interesse das plantas. Cada tonelada de composto de lodo contém nutrientes que equivalem ao valor de R$ 227,00 se comparado ao preço dos fertilizantes comerciais.
O processo de transformação do lodo em material de compostagem é um ciclo de 82 dias de duração, produzindo material que atende a resoluções e normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente, sob o nome “Sabesfertil”, devidamente registrado.
Defendo que conhecer mais sobre o assunto e refletir sobre os potenciais do reaproveitamento do lodo deve ser uma estratégia para quem atua em saneamento básico, no setor privado ou público, e também para interessados em questões ambientais e da gestão pública.
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