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{ ARTIGO }

Sobre junho de 2013

Rafael Auad escreve que as manifestações de dez anos atrás mostraram que a política distante do povo não fazia e continua não fazendo nenhum sentido

Rafael Auad, especialista em gestão pública

Edição: Scriptum

Junho de 2013 é o tema da vez. Linhas e mais linhas de textos analíticos nos jornais, vídeos de reportagens da época rememoradas, com muita gente nas ruas, manifestações e confusão, conversas acadêmicas com todo tipo de recorte e enquadramento político ou ideológico é o que vemos neste junho de 2023. E faz, claro, muito sentido, já que a mídia e também a arena pública são fortemente pautadas por efemérides, quanto mais uma série de movimentos vivenciados no começo da década passada que tanto trouxeram de novidade e moldaram o Brasil atual.

Recordo de muitas coisas daqueles dias. Mas na essência lembro como nós, militando em diferentes centros acadêmicos e outros espaços do movimento estudantil, nos envolvemos muito – nos reuníamos e debatíamos, formulávamos todo tipo de teoria e avaliação para tentar compreender o que o País vivia. Digo “nós” em referência a um grupo de colegas com os quais tinha diálogo, mesmo que sem muita afinidade política. E nós, mesmo sem a exata compreensão do que estava em andamento, tínhamos o entendimento de que aquele mês de junho de 2013 teria impacto duradouro na vida política do País.

O que eu pontuo aqui, em uma visão ligeira, creio que esteja muito bem mencionado nas diferentes análises em circulação sobre os dez anos de junho de 2013. E acrescento que, de um ponto de vista pessoal, aquele período teve para mim um bom papel de formação política. Debatendo e participando daqueles protestos, aprendi um tanto mais a fazer política e comecei a me atentar à crença de uma solução ideológica de centro. O equilíbrio na solução dos problemas da sociedade, a liberdade econômica como norte e a busca por uma sociedade mais justa e desenvolvida começou a florir como caminho. E nesse 2023, me convenço de estar no lugar certo, no PSD, de centro, presidido pelo Gilberto Kassab.

À época eu era presidente do Grêmio da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, instituição em que me graduei em engenharia e onde comecei meus passos na política, e tenho uma memória viva dos diálogos e reuniões, seguidos da presença que tínhamos nas ruas.

Sabíamos que era um momento muito particular e histórico. O que começou como um questionamento aos reajustes de tarifas de transporte público enveredou pelo caminho de a sociedade brasileira largamente interpelar todo o sistema político, sobre a qualidade de serviços públicos e também muito questionar sobre representação, pontuando a distância entre a sociedade e os detentores de cargos públicos.

Manifestações foram crescendo em volume de participantes e reivindicações. E dominaram o debate público. E até hoje aquele mês de junho pauta bastante o debate…

Por vezes, os protestos foram desvirtuados pela violência e vandalismo, mas não acredito que isso tenha sido fator que deslegitimasse a presença das pessoas nas ruas – eu acredito, muito verdadeiramente, que a manifestação e o debate são da essência da democracia, e quem queria se fazer ouvir de forma legítima, sem recorrer à violência, estava fazendo o que era correto.

A rua é ambiente “físico” por excelência da discussão política, e naqueles dias ficou claro que a sociedade estava insatisfeita. Os efeitos de junho de 2013 se desdobraram nos anos seguintes – em processos eleitorais, no impeachment, ascensão de novas pautas, uma grande discussão sobre corrupção política e uma nova conformação dos espectros político-ideológicos e seu grau de aceitação pela população (quanto a isso, basta lembrar que vimos a emergência de uma direita que conquistou a eleição presidencial e deslocou, claro, o eixo de poder/preferência política do brasileiro).

Portanto, o que junho de 2013 mostrou? Acho que mostrou que política distante do povo não fazia nenhum sentido. Fazer política sem ouvir a sociedade não funcionava mais. E se não funcionava em 2013, o que dirá dez anos depois…

Também quero destacar que a arena pública era outra, e muito mais impactada pela “rua física” do que é hoje. Em 2013, o Instagram tinha apenas três anos de existência e não era relevante no País. O Tik-tok não existia (foi criado em 2016). E as redes sociais que preponderavam eram o Facebook e o Twitter (criados em 2004 e 2006, respectivamente).

Hoje temos muita política sendo feita pelas redes sociais. Muita discussão e possibilidade de “chegar junto” de detentores de mandatos públicos ou de lideranças políticas por meio desses canais. Também temos nesses dias um debate muito relevante e necessário sobre as redes sociais e as big techssobre fake news e seus impactos sociais. E nos últimos meses ganham terreno no debate sobre comunicação os impactos da inteligência artificial. E cabe a pergunta: o que teremos dentro de mais dez anos, se pensamos em inteligência artificial? Isto seria tema para outra reflexão…

Mas traçadas essas linhas, humildemente convido a todos que participem efetivamente do debate público, que se envolvam nas discussões sobre políticas públicas, sobre representação, sobre combate à corrupção, meio ambiente, desenvolvimento urbano, educação, habitação… Enfim, uma série de temas, que são assunto de todos. E em especial os jovens. Que “tomem as ruas” da discussão da atualidade, que se não são mais apenas as ruas “físicas”, também as redes sociais e os seus diferentes espaços de debate.


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