Rubens Figueiredo, cientista político e colaborador do Espaço Democrático
Edição Scriptum
Vivemos numa sociedade multitemática. A mudança nos comportamentos associada à explosão das redes sociais expandiu de maneira meteórica o leque de assuntos sobre os quais somos instados a refletir e opinar. Os novos formatos da família, as causas LGBTQIAPN+, sociedade armada ou não, racismo, pautas vegetariana e vegana, a escalada da ansiedade e da depressão, aumento da desigualdade no mundo, riscos à democracia, a ascensão do bukelelismo, o ambientalismo da catástrofe, o “feminalismo” hard, o ciclismo militante, a vacina como opção pessoal e por aí vai.
Algumas pesquisas de opinião pública têm procurado organizar e mensurar o tamanho da encrenca, a dimensão do reboliço. Recentemente o Datafolha divulgou os dados de um levantamento cujos resultados mostram uma sociedade que percebe os câmbios sociais, de um lado, mas que também se mostra conservadora em alguns temas. Às vezes, forma-se um contingente majoritário. Em outros momentos, a sociedade se divide.
Com relação à família, podemos dizer que os brasileiros são conservadores: 59% concordam totalmente que a família deve ser formada por um homem e uma mulher. Uma parcela de 20% discorda totalmente da afirmação. No caso da diversidade sexual, a aceitação é majoritária. Estimulados a opinar sobre o assunto, 55% dos brasileiros concordam totalmente que a homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade. Apenas 13% pensam o contrário.
Com relação ao racismo, existe uma percepção bastante acurada da vulnerabilidade dos negros, por um lado, e uma surpreendente visão crítica no que se refere ao que poderíamos chamar de vitimismo. Nada menos do que 78% dos brasileiros concordam que os negros têm menos acesso aos empregos do que os brancos. Mas 75% dos entrevistados também concordam com a expressão “hoje em dia as pessoas veem racismo em tudo”. Já no que tange às armas, nossa opinião pública se divide: 33% concordam totalmente que possuir uma arma legalizada deveria ser um direito para o cidadão se defender e 37% pensam exatamente o contrário.
Olha só esse resultado que interessante. Perguntou-se aos entrevistados a opinião sobre a seguinte frase: “as pessoas devem ter o direito de dizer o que pensam nas redes sociais, mesmo que isso ofenda alguém?”. Chama a atenção o expressivo número de respondentes que acham as redes sociais uma espécie de “terra de ninguém”. Nada menos do que 38% responderam que sim ao questionamento.
São apenas alguns exemplos desse campo minado que representa a diversidade de assuntos com a qual nos deparamos. São muitos temas e são muitos temas polêmicos que trazem consigo a anfetamina da discórdia. Raul Seixas dizia que preferia ser “essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. É isso que somos hoje em dia: metamorfoses ambulantes.