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{ ARTIGO }

Vilanizar a pejotização é ignorar o peso da carga tributária

O poder público cria e dita regras sem conhecer a fundo a realidade do funcionamento dos processos na prática, aponta Roberto Mateus Ordine

Roberto Mateus Ordine, presidente da Associação Comercial de São Paulo

Edição Scriptum

 

 

Parece uma anedota: quase diariamente nos deparamos com mais notícias negativas em relação à economia e ao trabalho no Brasil, mas é a realidade estampada por todos os lados. Para os empresários, a cada medida, surge uma surpresa desagradável e muita insegurança; para os trabalhadores, a incerteza.

Insisto em dizer que as pautas debatidas no Congresso se interligam e, juntas, têm impactado negativamente a economia e o desenvolvimento do País. Como é o caso da pejotização, que agora foi suspensa, temporariamente, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que alega que o tema está gerando um aumento de processos no STF.

Vejo a pejotização como uma oportunidade para o trabalhador brasileiro. Tem sido cada vez mais comum profissionais serem contratados por empresas, via regime PJ. E isso tem acontecido porque a carga tributária sob a folha de pagamento é absurdamente elevada.

Segundo estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), os encargos trabalhistas, com apenas um funcionário, correspondem a até 183% do salário bruto do profissional. Agora, imagine uma empresa que tenha em sua folha de pagamentos, por exemplo, 30 funcionários CLT.

Os encargos sociais e obrigações trabalhistas são compostos por férias (fração de 11,11%), 13º salário (fração de 8,33%), FGTS (8%), INSS (20%), sem contar os contratos de trabalho que contêm adicional de insalubridade, noturno e de periculosidade, além dos custos relacionados a outros benefícios oferecidos pelas empresas.

Como advogado tributarista, questiono: como uma empresa de pequeno porte consegue competir, sustentar-se e sobreviver diante de encargos trabalhistas excessivos? É inconcebível!

É muito simples entender a lógica da pejotização. As pessoas precisam trabalhar, as empresas não têm caixa suficiente para arcar com esses encargos trabalhistas, embora necessitem da mão de obra. E qual é a solução? Pejotizar.

Muitos trabalhadores preferem atuar nessa modalidade de contratação, pois recebem seus proventos sem descontos e, com isso, podem até negociar valores de remuneração maiores com o contratante, uma vez que essas empresas não terão que arcar com o alto custo da folha de pagamentos. Sendo assim, a margem de ganho para o profissional é maior e as despesas da empresa menores.

Aqui, quero destacar outro ponto crucial da pejotização: o Simples Nacional. Com a Reforma Tributária e a possível exclusão do Simples Nacional, muitos desses profissionais serão prejudicados e terão que arcar com encargos maiores. O que pode acarretar o aumento do desemprego e a informalidade no Brasil. Afinal, sem o Simples Nacional, esses trabalhadores não conseguirão sustentar uma tributação equivalente a uma empresa com um faturamento maior.

Com isso, a grande conquista do Simples Nacional, uma oportunidade que o regime tributário do Microempreendedor Individual (MEI) trouxe para sociedade, pode extinguir-se. Reformas estruturais são urgentemente necessárias. O poder público simplesmente cria e dita regras sem sequer conhecer a fundo a realidade do funcionamento dos processos na prática.

A pejotização para os pequenos não existe por ser hipossuficiente, já para aqueles que têm uma renda maior, por ser hipersuficiente, diminui a informalidade, garantindo que as pessoas sigam trabalhando formalmente e gerando receita para si e para o crescimento econômico do Brasil.

 

Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião do PSD e da Fundação Espaço Democrático. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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