Também conhecida como economia do intangível, a Economia Criativa é uma aposta segura quando se trata de criar oportunidades de novos negócios para brasileiros de todo o País, mas ainda enfrenta obstáculos que podem e devem ser superados. A questão foi analisada nessa segunda-feira, 4, durante o 3º debate do ciclo “Desatando os nós que atrasam o Brasil”, promovido pelo Espaço Democrático para discutir propostas que farão parte do programa do PSD, que deve ser analisado em meados deste ano pela Convenção Nacional do partido.
O seminário desta segunda foi transmitido on line pela internet e acompanhado por lideranças, filiados e militantes de vários Estados. Pela web, eles puderam assistir ao debate e enviar perguntas e sugestões aos participantes.
Em Goiânia, o PSD local reuniu cerca de 200 pessoas num auditório do Address Hotel para acompanhar o seminário. Após a transmissão, os deputados estaduais Francisco Jr., Joaquim de Castro e o vereador Virmondes Cruvinel coordenaram um debate sobre o tema.
A platéia foi formada por estudantes da Universidade Federal de Goiás, da Universidade Estadual de Goiás e da PUC-GO, representantes da Secretaria Estadual de Cultura e do Sebrae, agentes e produtores culturais e jovens empresários ligados a entidades como a Associação de Jovens Empreendedores, Associação Comercial de Goiás e Federação Industrial de Goiás.
Por telefone, de Brasília, o deputado federal Vilmar Rocha saudou os participantes em Goiânia e explicou a importância desses seminários para a consolidação do partido. “O PSD quer ser um partido diferente. Queremos refletir, ouvir e discutir os problemas do País diretamente com a sociedade”, afirmou Vilmar Rocha, vice-presidente da Fundação Espaço Democrático.
Condições favoráveis
O seminário foi conduzido pelo cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Espaço Democrático, e teve como debatedores os economistas Luiz Alberto Machado, vice-diretor e professor da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), e Marcel Solimeo, Superintendente Institucional da Associação Comercial de São Paulo, além da secretária-adjunta de Desenvolvimento Sustentável do Governo do Estado de Santa Catarina, Lúcia Dellagnelo.
De acordo com Machado, a Economia Criativa, ou economia da cultura, é um segmento revolucionário do processo econômico, pois trabalha com bens inesgotáveis, como arte, arquitetura, cultura popular, moda, softwares e inovações tecnológicas. “Graças a isso, as atividades englobadas nesse segmento têm perspectivas de desenvolvimento extraordinárias, já que não dependem de bens cada vez mais escassos, como energia e outros recursos naturais”, explicou o dirigente da FAAP.
A secretária-adjunta de Desenvolvimento Sustentável de Santa Catarina, Lúcia Dellagnelo, citou pesquisas internacionais para lembrar que dois fatores são essenciais para garantir o pleno desenvolvimento de negócios inovadores: empreendedores que acreditam no potencial de determinadas atividades e um ambiente econômico e jurídico favorável aos novos empreendimentos.
“No Brasil, pela primeira vez em muitos anos estamos começando a ter essas duas condições ao mesmo tempo”, afirmou, lembrando que é necessário solidificar essa tendência . “Precisamos deixar de ser um país de classe média e nos transformar num país de classe alta e o caminho é a Economia Criativa, não podemos perder essa oportunidade”, disse.
Marcel Solimeo, superintendente institucional da Associação Comercial de São Paulo, no entanto, ressaltou que “criatividade precisa de liberdade, mas burocracia não rima com liberdade”. Para ele, a tarefa de quem se preocupa com o desenvolvimento desse segmento de negócios é buscar libertar o empreendedor da burocracia.
Visão de oportunidade
Solimeo lembrou que, atualmente, o espírito empreendedor no Brasil não é despertado apenas pela necessidade de buscar novas fontes de renda, como ocorria no passado, mas também pela identificação de oportunidades de negócio. “Isso é muito positivo e nossa tarefa é desburocratizar, reduzir tributação e, paralelamente, incentivar a oferta de mais educação de qualidade, especialmente se queremos desenvolver inovações em tecnologia de ponta”, afirmou.
Lúcia Dellagnelo concordou com a necessidade de investimento na educação de qualidade, pois a falta de empreendedores qualificados, em sua opinião, impede o Brasil de assumir papel de destaque, em termos de inovação, no cenário internacional.
Para isso, ela defende mudanças no sistema de ensino, para formar jovens inovadores. “Hoje, quando meu filho adolescente sai de casa para ir à escola, é como se deixasse a modernidade para voltar à era medieval, pois deixa para trás equipamentos e fontes de conhecimento que não encontra na sala de aula”, disse. Assim, afirma, “a escola deve ser o lugar onde se discute os conteúdos a que somos expostos dia e noite”.
Outra sugestão da secretária catarinense é que se busque, no Brasil, uma mudança da cultura de punição do fracasso como empreendedor. “Nos EUA, os novos empresários veem o fracasso como uma etapa do aprendizado e chegam a errar 3 ou 4 vezes antes de acertar em um empreendimento”, contou, lembrando que, aqui, “os que fracassam têm o crédito cortado e enormes dificuldades para voltar a investir em um novo negócio”.
Ao final do debate, os participantes concordaram que o País apresenta um cenário bastante favorável ao desenvolvimento de empresas inovadoras e que não é necessário fazer grandes reformas para remover os obstáculos existentes. “Uma iniciativa importante nesse aspecto é reduzir o tempo de abertura e fechamento das empresas”, disse Lúcia Dellagnelo.
Por sua vez, Marcel Solimeo lembrou que é possível avançar nesse sentido realizando pequenas mudanças, sem esperar pelo tempo necessário às grandes reformas. “Com algumas medidas específicas podemos reduzir a burocracia e a tributação, mas o importante é não permitir que os pequenos avanços sejam anulados, como já aconteceu muitas vezes”, concluiu.